Esta realidade foi constatada hoje pela Lusa numa ronda pelo mercado informal das ruas da capital angolana, que face à ausência de divisas nos bancos se tornaram há mais de um ano na única forma para nacionais e estrangeiros acederem a dólares, mas a taxas nunca vistas.

"O movimento cambial depende do dia. Mas desde que bloquearam o sistema económico as coisas não estão a correr bem, porque o dólar está a aparecer pouco. Não temos como sobreviver, está difícil", contou Frederico Augusto André, que há 18 anos vende dólares nas ruas do Luanda.

Agora está pelo bairro do Prenda, onde vai vendendo "uma ou outra nota", ao câmbio de 600 kwanzas para um dólar, quando a taxa oficial do Banco Nacional de Angola (BNA) é de 166 kwanzas. O problema é que a crise que o país atravessa, fruto da baixa da cotação do petróleo, fez cair a pique o acesso a divisas nos bancos comerciais.

Apesar do preço cada vez mais alto nas transacções de rua -subiu mais 15% no espaço de uma semana -, quem vende o dólar diz que o negócio já não rende, porque as "notas estrangeiras" são poucas.

"Dificilmente consigo manter a minha família com o dinheiro que ganho aqui. E depois temos o problema dos bandidos e da fiscalização, caindo nas mãos deles, levam o dinheiro", conta Frederico André.

Como todos os outros que se dedicam ao negócio, pouco adianta sobre a proveniência dos dólares que vende, além de assumir que os compra aos que têm "mais dinheiro".

Numa outra zona do bairro do Prenda, encontramos quem vende a nota de um dólar a 590 kwanzas, sensivelmente o mesmo preço do que é praticado no bairro Mártires do Kifangondo (594 kwanzas) ou na Mutamba, onde também chega aos 600 kwanzas.

É neste contexto de crise que o BNA exortou a Polícia, este mês, a combater a venda ilegal de dólares nas ruas, confirmando os receios de quem está na rua, tendo em conta tratar-se de um negócio, ilegal, já que não pagam impostos ou declaram as compras e vendas.

O banco central recomendou "às autoridades competentes maior controlo e responsabilização dos agentes promotores do mercado informal de moeda estrangeira", ao mesmo tempo que pretende que a supervisão seja "mais actuante e enérgica na preservação da ética e cumprimento das normas do sistema financeiro".

As autoridades angolanas relacionam este mercado informal, especulativo, com a subida da inflação no país, que já ultrapassou os 26% no espaço de um ano.

Alheio a isto, António João vende dólares nas ruas de Luanda há três anos, mas confessa que o negócio está cada vez mais complicado e já não dá para alimentar a família.

"Antes rendia mesmo, agora não. Posso dizer que há cinco meses que praticamente não vejo uma nota de 100 dólares", confessa, enquanto tenta vender outras coisas na rua, para "fazer algum dinheiro".

Há cinco anos neste "ramo' da venda de dólares nas ruas de Luanda, a "kinguila' Luísa António comercializa a nota a 580 kwanzas. O preço possível para pagar uma nota que poucos conseguem ver em Luanda.

"O dólar não está a aparecer. Está difícil, por isso estes preços", explica, recordando que além do pouco negócio, também têm de enfrentar as "corridas dos fiscais".