O que significa que começa o cheirinho habitual a mesas de voto e a eleições. O que significa que algumas "cabecinhas pensadoras" começam no já gasto e inútil discurso de trocar as voltas, torpedear e insultar quem comete o "crime" de ser autónomo no seu pensamento, de pensar pela sua própria cabeça e não fazer parte de nenhum "rebanho". De procurar um olhar amplo, aberto e honesto relativamente à realidade em que vivemos e cumprir o dever cívico de exercer, no nosso caso, a profissão que abraçámos. Com seriedade e muitas vezes até com devoção.

O testemunho que nos passaram, os (as) grandes jornalistas que fizeram escola a partir dos anos 60, 70 e 80, foi, muito para além dos aspectos técnico-profissionais, a obrigatoriedade de um exercício diário, constante e permanente de seriedade e de verticalidade.

De coerência, de grande apego a valores inestimáveis (e impagáveis, já agora...) e de amor à verdade, à objectividade e à lucidez. Várias gerações o fizeram, com mais ou menos problemas (mas fazendo-o...) no período do partido único.

Onde a crítica por parte dos jornalistas, gostassem ou não os visados, era pela maior parte das pessoas bem aceite. E era discutida. Debatida. Por muitos. Fossem ou não militantes. Fossem ou não mais ou menos agentes activos de muitos dos momentos que marcaram Angola pós-1975, pós-1977 e pós-1979.

O dogmatismo não encontrava eco na maior parte dos que já então exerciam a profissão e em exercícios extraordinários, férteis de imaginação e de trabalho, encontrava-se sempre uma forma de "dar a volta" aos problemas.

E os comentários surgiam. As crónicas faziam furor nas rádios. A voz das populações ouvia-se e lia-se todos os dias. Todas estas gerações criaram-se e fizeram-se aqui, para além de uns breves cursos de jornalismo (de pouca duração e de não grande importância) por vários países do mundo.

Não bazaram cada vez que havia tiroteio, não mudaram de Terra porque lhes dava na veneta ou porque lhes desagradava determinada "fase do processo". Da mesma forma, também não precisaram de voltar a correr, quando, alterados os pressupostos até então em vigor, Angola entrou para o multipartidarismo e adoptou a economia de mercado. Porque de cá nunca saíram.

Interessante ver como, com mais ou menos idade, mais novos ou mais velhos, a esmagadora maioria continua coerente consigo própria, com as escolhas individuais e/ou colectivas que fez e vai fazendo. Independentemente de cada um, pelo seu próprio pé, ter desenhado o seu próprio caminho que, em princípio, se manterá até ao fim, em nome dos valores recebidos e dos que assimilou no seu crescimento e amadurecimento.

E eis que quase quatro décadas depois, lemos com espanto que quem pensa, quem estuda, quem opina, quem escreve de acordo, e só de acordo com a sua própria consciência, se não é adversário, é inimigo. Podem vir do Pólo Árctico.

Podem pertencer a algum local longínquo, de alienígenas.

Podem até escrever, como sempre fizeram, não o que pensam, mas o que mais lhes interessa, num dado momento, escrever. Mas não ponham em causa a seriedade e o amor da generalidade dos jornalistas angolanos para com a sua Terra. Não se metam connosco!