Bem cedo, Teresa Albano, vendedora no Asa Branca, compra uma rifa de 150 kwanzas, o mesmo que quase todas as outras vendedoras deste mercado, e, ao final da manhã, quando é anunciado o número vencedor, tirado à sorte, pode ganhar 10 mil. Não aconteceu desta vez, quando o Novo Jornal Online esteve no local.
Mas há quem sonhe mais alto e procure os 150 mil kwanzas que são o prémio que pode sair a quem compre a rifa de 900 kwanzas. Se a "batota" mais barata dá para garantir o dia, a mais cara, pode ser um prémio superior ao trabalho de um mês inteiro.
Nem um nem outro, desta feita foi ganho por Teresa Albano, que explicou ao Novo Jornal que a "batota" já se joga há algum tempo nos mercados de Luanda, mas agora, que a crise levou a que "as pessoas nem olhem para as bancas", quando há pessoas, o que é cada vez mais raro, "todos dão mais atenção a este jogo".
"Às moscas, sem clientes, estão a fazer do mercado o seu parque infantil", lamenta esta vendedora, e essa é a razão maior para que as pessoas apostem cada vez mais nas rifas da "batota".
A reportagem do Novo jornal Online percorreu os mercados do Asa Branca, Tunga-ngo e do São Paulo, onde viu repetir-se este modo de arranjar o dia encontrado pelas vendedoras... pelo menos para duas delas. A da "batota" barata e a da "batota" cara.
"Às vezes passamos o dia todo sem vender nenhum peixe, até para almoçar fazemos kilapi. Para não pensarmos muito nos problemas da vida, preferimos estar atentas no decorrer do jogo, se tiveres a sorte já consegues levar dez mil kwanzas em casa, para sustentar os filhos". Disse a vendedora de 27 anos, acrescentando que já ganhou um cabaz no ano passado e 10 mil há uns dias.
O jogo do Quino, como também é conhecida a "batota"no mercado do Asa Branca, as vendedoras consideram-no como a segunda opção para o sustento da família e deste jogo muitas já conseguiram cadeirão, cama e fogão, conforme nos conta Rosa Dengue, também vendedora do Asa Branca.
"Só agradecemos pela visão destes jovens(que começaram o jogo), porque aqui no mercado os cliente estão cada vez mais ausentes. O meu negócio já recaiu várias vazes, mas graças a este jogo ganhei 150 mil kwanzas e continuo aqui. As pessoas aqui já não conseguem ficar sem jogar porque já se encontra no sangue, se dependermos do negócio o fogão apaga", diz a vendedora.
Fiscais contra a batota
Várias vendedoras estão receosas que o jogo venha a desaparecer do mercado devido à confusão que os fiscais têm causado, como é o caso de Júlia Simão, de 39 anos, que viu o jogo interrompido durante uma hora e meia, provocando-lhe o receio de não poder continuar a jogar.
"Este jogo ajuda-nos muito aqui na praça, mas os fiscais passam por aqui constantemente para ver se ainda continuamos a jogar e para nos proibir de continuar. É por isso que eu tenho medo de que este jogo venha a desaparecer, mesmo sabendo que nós não estamos a fazer nada de mal",
As regras do jogo são simples: cada cartão de 150 ou de 900 kwanzas tem 15 números e, no momento do sorteio, são anunciados três e quem possuir o cartão onde estes estejam, ganha o prémio correspondente.
E não há batota? "Elas ficam atentas na hora da chamada porque nas suas rifas podem estar os três números da alegria, nós aqui não enganamos as pessoas porque a máquina é que lança os números que estão nas rifas comercializadas", explicou o realizador do jogo que pediu o anonimato.