Que, abrindo a boca, põem normalmente a nu uma profunda ignorância intelectual - veja-se os que se consideram a ele(a)s próprio(a)s como fazendo parte de uma qualquer anedótica lista de "famoso(a)s", numa cópia grosseira e ainda mais reles que a de europeus ocidentais e de norte-americanos. Que são, por norma, os modelos em que se revêem, ainda numa fase pré-histórica de consolidação cultural do seu estatuto (ou pseudo-estatuto).

Um pouco por todo o lado, à excepção feliz de algumas sociedades que optaram por outros modelos de desenvolvimento em que a ideia central da sua construção passa pela defesa do princípio de que "a liberdade é a consciência da necessidade", como defendia um antigo intelectual angolano de formação marxista, também em Luanda, uma vez que também ainda estamos infelizmente na fase de que Angola é a capital e o resto "é paisagem", o individualismo toma conta das nossas vidas.

Não no sentido em que cada um tenha o direito e o dever de participar, de se empenhar num qualquer projecto mantendo os seus direitos universais, mas, pelo contrário, como nos ensina Alain Touraine, "no sentido em que cada um considera que tem direito à individualização e que é esse direito que deve ser reconhecido como universal".

É mais do que evidente que esta situação não corresponde a qualquer solução real e passível de ser aceite e posta em prática por todos. Mais, é uma perspectiva que corre o risco de aumentar a já de si assustadora ausência de componentes comuns, que eram até há uns anos parte intrínseca dos valores defendidos pela comunidade, com todas as diferenças inerentes aos diferentes níveis de desenvolvimento.

Só quando os políticos e partidos tiverem a perfeita noção de muitas feridas que estão a abrir ao praticar o exclusivismo, a falsa ideia de que são donos absolutos de todas as verdades e forem suficientemente patriotas e sérios para estabelecer pontes em todos os sentidos, é que se tornará possível compreender, em toda a profundidade, que saídas podemos encontrar para os múltiplos problemas que se colocam à nossa frente.

O esforço individual, tornando cada cidadão um sujeito real e não mero número recolhido para efeitos estatísticos, levar-nos-á a participar com o recurso a "orientações culturais, pessoais ou colectivas, a uma míngua, a uma recordação, sempre inseparáveis de uma comunidade", ainda nas felizes palavras do sociólogo da "Crítica da Modernidade".

O aprofundamento sério, racional e não ilusório do direito, a educação, ainda e sempre parente pobre e muitas outras instituições sociais, têm (deviam ter...) o papel fulcral de combinar as múltiplas contribuições que podem ser dadas por todos, independentemente da posição social, cultural ou económica, abrindo o caminho para o reforço da liberdade de cada um.

É nos movimentos sociais, nas manifestações que exprimem vontades comuns de cumprir desideratos colectivos, na convicção de que todos nós temos direito a fazer escolhas, mais ainda que no espaço estrito da política e/ou da economia, que se criam condições para o aprofundamento da liberdade e para impedir o surgimento de novas formas de desigualdade e de formas de dominação que se mantêm a vários níveis.

Só por vontade própria será possível olhar para dentro, para a igualdade e em simultâneo para as diferenças. Mas também para sonhos pessoais e colectivos. Principalmente para voltar a fazer nascer a vida política e a vida pública.