Tomando conta do salão, faziam ressurgir do cansaço energias infindáveis, passadas longas, alongadas e contagiantes, e traziam alegria à festa. Esses, os patos, nunca estavam nas listas, pelo contrário, faziam questão de não estar nas listas, pois tinha mais sabor dessa forma. Mas isto era antigamente. Nos tempos actuais, quanto mais alto na lista melhor.

Nesse tempo do antigamente também havia muitos que não se queriam alistar, desenvolvendo engenhos e façanhas para fugir ao serviço militar obrigatório. Enquanto uns abalavam para o Ultramar e para outras paragens de latitude mais a norte, outros cortavam o dedo do gatilho da mão líder ou forjavam doenças limitantes sustentadas por atestados médicos fabricados. A estes, juntavam-se os das listas para "safar" uns e outros. E quem era da "não lista" lá ia combater para libertar Angola do inimigo.

Mas isso era no passado, onde apesar de haver uma apetência para "estar" na lista não era assim tão necessário; não havia uma dependência grande nos amparos e benefícios de constar numa lista privilegiada.

Havia, contudo, listas menos queridas. Era um horror para quem, munido com as suas bagagens e bilhete de passagem confirmado (e reconfirmado), se dirigia ao aeroporto internacional várias vezes até conseguir viajar, ficando quase sempre na famosa "lista de espera".

Aos poucos isto foi mudando e com a democracia fomos ficando cada vez mais dependentes das listas e do que elas exigiam. Começaram a existir listas para deputados quase com a mesma importância das listas para os cabazes de Natal. Quem não estava na lista das matrículas tinha de arranjar uma forma inovadora de conseguir estudar. Quem não fazia parte da lista dos beneficiários beneficiava apenas de não estar listado.

Agora vivemos numa época em que muitos querem fazer parte de listas para poderem subir uns degraus na vida mesmo que isso, mais tarde, possa representar uma queda abrupta para o abismo do esquecimento, para o segundo plano ou para plano nenhum, esquecidos nas prateleiras poeirentas.

Ainda assim, são mais aqueles que se querem alistar do que o número de vagas disponíveis e isso cria continuamente um desequilíbrio, motivando o surgimento de corredores para testar as forças e a influência de cada contendor. A luta é titânica e os métodos questionáveis, mas claro que, como não há lugares suficientes para todos, acabam por sobrar os "sem lista", que com um bocado de sorte ainda atingem a categoria de suplentes, reservas do futuro que teima em não chegar.

No entanto, o sentimento parece ser o mesmo: Estar ou não estar (na lista), eis a questão. Embora os resultados na vida real não sejam tão dramáticos como os de Hamlet, o caminho para a inscrição nas listas tem alguns dos ingredientes mais importantes: vingança e traição. E com isso aceleradas batidas do coração.

Alguns dos esquecidos ao longo dos anos são finalmente incluídos na lista, apesar de já não estarem a bailar na festa por conta do cansaço do esqueleto ou por não reconhecerem os pares de dança. Admirados por se lembrarem deles, ????invocam surpresa mas não fecham a porta, pois estar na lista pode sempre render alguma coisa. Nada de especial é o sentimento de desapego mas "prontos", ficam só para ver o que acontece no baile das máscaras e no frenesim carnaval da vitória, pois a luta continua.

Há outros, menos esquecidos e mais inconformados, que não querem fazer parte da lista. Quiçá munidos de um espírito de "pato" que alegra a festa mais tarde, preferem estar do lado de fora e entrar na dança quando o bailado estiver murcho e necessitar de um gindungo mais forte para soltar o enguiço.

Os tristes mesmo são aqueles da categoria dos ignorados, que tentam entrar na lista por portas e travessas e quando o oásis está perto dos seus dedos, pimba, o tapete ganha vida própria enquanto os pés ficam paralisados.

Ser esquecido ainda dá para aguentar, agora, ignorado custa muito. Haverá com certeza outros que ainda não resolveram que decisão tomar em relação à sua presença na lista ou nas listas, talvez por serem postiços ou talvez ainda por não saberem ao certo se o que vão comer é carne ou peixe. Talvez a opção seja mesmo ser vegetariano, pois a promessa é renovar, injectando sangue novo, verde de esperança.