Entretanto, para o que hoje denominamos de desastres naturais, torna-se demasiado complexo trabalhar na redução de ameaças, tais como chuvas intensas, ventos fortes ou mesmo escassez de chuvas, de maneira que acções para reduzir vulnerabilidades deveriam ganhar cada vez mais espaço na agenda dos nossos governantes.

Assim, para fortalecer as medidas de redução de riscos de desastres, processo ainda incipiente em Angola, seria preciso fortalecer, dentre muitas, a participação comunitária, pois toda a gestão de riscos tem início na localidade em que os desastres acontecem. E para nós, angolanos e angolanas, as localidades onde normalmente os desastres acontecem são bem conhecidas.

Na prática, isso significa que cada Governador Provincial e cada Administrador Municipal deveriam investir tempo, dedicação e recursos para conhecer melhor os bairros e localidades sob sua jurisdição, bem como quais os tipos de eventos mais comuns afectam a sua região, como, por exemplo, se há alagamentos, se ali costumeiramente incidem ventos fortes, escassas chuvas, etc.

Ao considerar todos esses elementos, todas as ameaças, é possível enfrentarmos eventos, como secas ou chuvas intensas de maneira mais segura. Sem termos de sofrer prejuízos económicos e humanos que tendem a ser cada vez maiores.

É preciso, portanto, que a noção de gestão de riscos esteja mais presente nas comunidades, ampliando as suas percepções de risco e promovendo atitudes, como a desobstrução das linhas de água, limpeza e saneamento do meio e outras medidas de prevenção que as comunidades podem e devem fazer, com apoio das instituições do Estado e seus parceiros.

Ao ampliar a percepção de risco, o responsável pela gestão de uma dada localidade apercebe-se de que é co-responsável pela resiliência da sua comunidade, e deixa de lado a velha noção de que as vítimas são sempre culpadas pelos danos humanos, económicos e sociais causados pelas chuvas.

Garantir que os danos humanos e económicos sejam inexistentes nesta estação chuvosa é também uma responsabilidade do poder público e não apenas exclusivo dos cidadãos.

As Administrações Municipais deveriam ter o papel de pensar a gestão de risco e a defesa civil como algo fundamental, de maneira a evitar que o desastre provoque danos e prejuízos, muitas vezes, irreparáveis.

Em alguns países, o órgão responsável pela aprovação de projectos que envolvam a construção de infra-estruturas públicas ou privadas, por exemplo, tem na análise de risco o ponto de partida para a construção de uma rodovia, de um hospital, de uma residência, ou de uma escola, garantindo que as suas estruturas e a sua localização sejam o menos vulnerável possível aos desastres ou contribuam para que estes ocorram nas zonas circundantes.

Ao nível de alguns Municípios, Províncias e até ao nível Nacional, temos vindo a pagar muito caro por não investir recursos suficientes na prevenção ou em medidas adequadas de redução dos riscos.

Alguém já terá feito o cálculo do quanto tem vindo a custar aos cofres do Estado a reparação dos danos causados pelas chuvas? Alguém imagina o que tem custado às famílias que sofrem directamente o impacto das secas, das estiagens ou das inundações que acontecem, com cada vez mais frequência, no nosso país? A prevenção não está somente nos apelos que se fazem às comunidades para evitarem construir em zonas de risco, nem nas acções de demolição que, às vezes, ocorrem e muito menos no amontoar de meios e bens diversos para acudir às vítimas depois de os desastres ocorrerem.

*Coordenador do Observatório Político e Social de Angola