Este apelo de Hollande surge num contexto de violência extrema nas ruas das cidades da RDC, especialmente na sua capital, Kinshasa, cuja génese é precisamente o adiamento das eleições presidenciais que vão marcar a saída de cena do actual Chefe de Estado, Joseph Kabila, cujo terceiro e último mandato permitido pela Constituição, chega agora formalmente ao fim.

No entanto, o que o Presidente francês está a dizer é que, fazendo-o a partir da sede das Nações Unidas, em Nova Iorque, onde decorre a assembleia-geral, é que é inadmissível que o prazo constitucional para as eleições na RDC não seja cumprido e que isso é a causa para os violentos confrontos que nas últimas 48 horas deixaram um rasto de dezenas de mortos no país.

A violência entre as forças policiais e os manifestantes, que saíram às ruas para uma marcha convocada pela oposição para exigir a realização das eleições no prazo legal, fizeram entre 17 mortos (versão oficial) e 50 (segundo a oposição), cenário que François Hollande apontou como "inadmissível e insuportável".

"A Constituição deve ser respeitada e as eleições devem ter lugar", enfatizou Hollande durante uma conferência de imprensa que teve lugar à margem da AG da ONU, em Nova Iorque.

Hollande reafirmou ali que já tinha, em 2012, dito a Joseph Kabila que não seria admissível e que a França não iria aceitar de forma nenhuma que as presidenciais não fossem realizadas no prazo constitucionalmente previsto.

Mas o Presidente francês fez mais, colocando-se de forma clara ao lado da oposição, acusando a polícia e o Governo de Kabila de serem responsáveis pelas mortes ocorridas, e sublinhou que o que está a passar na RDC "não é aceitável em país nenhum do mundo".

E ainda do lado daqueles que afirmam, daí a violência, que o que Kabila está a fazer, depois do insucesso que teve quando em 2015 procurou impor uma alteração constitucional que lhe permitisse um quarto mandato, é prolongar, através do expediente do atraso no registo eleitoral, o seu mandato por tempo indeterminado.

Para já, segundo o que a comissão eleitoral independente da RDC (CENI) tornou público é que o registo só será concluído dentro de 18 meses a dois anos, o que, no mínimo, permite a Kabila estender o actual mandato por metade daquele que deveria começar a 20 de Novembro e terminar em 2020.

Perante esta separação da barricada política na RDC, é de esperar que, depois do posicionamento claro de Hollande, outros actores se posicionem igualmente.

Por exemplo Angola, cujo ministro das Relações Exteriores, Georges Chikoti, já admitiu não haver condições para a realização de eleições na RDC dentro dos prazos constitucionais.

Cenário que é propício a que as forças políticas no país não deixem de pressionar, através de manifestações e proclamações, para, se não no prazo legal, encurtar o período da CENI para que as eleições tenham lugar.

Vários dos mais atentos analistas da política na RDC admitem que é de temer uma escalada significativa na violência no país vizinho.

Os próximos dias podem ser dos mais decisivos na história da RDC, até porque, como se sabe, os grupos de guerrilha que actual nos Kivu Norte e Sul, oriundos do Uganda (ADF) e do Ruanda (FDLR) não vão perder a oportunidade de, por entre este turbilhão, cimentar as suas posições em território congolês.