Ao acompanhar o debate entre Hillary Clinton e Donald Trump e salvaguardadas as devidas proporções no tempo e no espaço, imaginámos o que poderia ser uma troca de opiniões entre Mussolini e Hitler: as vantagens e desvantagens dos fascistas relativamente aos nazis e vice-versa. Porque, quanto às semelhanças ideológicas, estamos conversados. Sendo um (uma...) mais civilizado, mais urbano, mais inteligente, mais culto e com uma vivência político-diplomática que deixa o outro a milhares de quilómetros de distância, pouco muda na percepção que ambos têm dos "seus" Estados Unidos da América.

Com efeito, e de forma mais marcante, foi a partir do início dos anos 80, com a administração selvagem de Ronald Reagan, pendurada na Europa em outra figura tenebrosa, Margaret Tatcher, e com a bênção do então Papa João Paulo II que os Estados Unidos centraram a sua atenção em três focos principais, todos relacionados entre si e posteriormente conseguidos "com inegável sucesso", como lembra Noam Chomsky no seu livro "Piratas e Imperadores, Velhos e Novos (O terror que nos vendem e o mundo real): 1) Transferência de recursos dos pobres para os ricos; 2) Um aumento em larga escala do sector de Estado da economia à maneira tradicional, através do sistema do Pentágono, uma forma de levar o público a financiar indústria de alta tecnologia para garantir um mercado para a produção de resíduos de alta tecnologia e assim contribuir para o programa de subsídios públicos, lucros privados, a que foi chamado o "free enterprise"; e 3) Um substancial incremento da intervenção, subversão e terrorismo internacional (no seu sentido literal) americanos.

Independentemente dos juízos de valor que se possam fazer sobre os retratos pessoais dos diferentes chefes da administração norte-americana, se Michelle e Barack são simpáticos, modestos e contemporâneos, se Trump e Melania são o protótipo do casal norte-americano visceralmente ignorante, xenófobo e acéfalo, ou se Hillary e Bill são referências de alguma modernidade no que diz respeito aos costumes, a verdade é só uma: são os presidentes da (ainda) considerada maior potência mundial, a pátria do capitalismo financeiro, o símbolo do imperialismo que domina e varre povos, estados e governos, quase sempre quando muito bem entende.

Bem sabemos que esta é apenas mais uma etapa histórica.

Que, como todas as outras, há-de ser ultrapassada porque o ser humano, tarde ou cedo, acaba por nunca aceitar ser o sujeito passivo da sua própria existência. Mas é a fase que nos calhou agora viver.

Dentro de relativamente pouco tempo se entenderá com que apoios a direita e a extrema-direita brasileiras derrubaram Dilma Rousseff. Mais cedo que tarde haverá dados à disposição de todos para se entender por que razão a América do Sul está a sofrer esta regressão no seu desenvolvimento, na sua soberania, na sua independência. Em breve virão à tona dados que nos permitirão compreender como Israel continua a passear-se triunfante pelo mundo fora quando se comporta como verdadeiro terrorista. Terrorista, palavra-chave. Que para os Obama, os Clinton e os Trump (que duvidamos saibam onde fica situada a Palestina...), serão sempre os que têm a coragem de se levantar e tentar resgatar a sua dignidade. Os ocupantes, os invasores, os que chacinam, provocam golpes de estado, instigam e criam novos apartheids têm a sua violência legitimada em função das prioridades da governação norte-americana.

Veja-se o caso da Síria e a verdadeira trapalhada em que se (nos) têm metido os órgãos de informação manipulados por cadeias de rádios, televisões ou jornais norte-americanos e europeias. As mentiras, as falsidades, a contra-informação, a guerra mediática contra a Rússia e o Irão, a fazer lembrar os velhos tempos do "império do mal" criado pelas coboiadas reaganianas.

É evidente que chegados a este extremo, é crucial que Clinton vença Trump, porque já não vamos a tempo de discutir a democracia real ou a barbárie. É a civilização humana que está em jogo, caso Trump vença. Nunca esquecendo que nem Bill Clinton nem Barack Obama deixaram um mundo melhor para os Povos. Em particular, os mais pobres, menos desenvolvidos e mais desiguais. Também por culpa nossa. Mas essas são "contas de outro rosário", ao qual voltaremos, como sempre.