"A Travessia" é o título do primeiro volume que reúne perto de quinhentas páginas em que se narram histórias relacionadas com o período esclavagista, com destaque para os reinos do Ndongo e da Matamba.

A obra, da autoria do pesquisador e empresário João Mainsel, tem no primeiro volume 256 páginas e foca, entre outros aspectos, o diversificado potencial que os autóctones, na época, detinham.

O autor faz várias observações sobre, por exemplo, a existência de diferentes minérios que eram explorados para variadas utilidades. Logo, explica Mainsel, havia conhecimentos apurados de mineralogia, metalurgia e de olaria para que aos artefactos bélicos fossem dadas as formas pretendidas.

"Estamos a falar de uma indústria. Para ter uma ideia, o reino do Ndongo tinha onze mil homens que, analisados sob o ponto vista industrial, isso representa um grande potencial", explicou.

Outro dos pontos que o autor explicou é a existência de uma evolução económica em alguns sentidos mais avançada que a de outras sociedades da Europa.

"A existência de uma moeda pressupõe que haja diferenciação no trabalho, onde existem várias pessoas a conceber produtos diversos e um mercado amadurecido para que as pessoas aceitem a troca através desta moeda", afirma o autor, que realça ainda a racionalização económica do ponto de vista temporal da sua época.

O livro, de cunho sociológico e que foi apresentado pelo académico Paulo de Carvalho, foi romanceado na intenção de atrair o público leitor, fugindo intencionalmente da formatação científica e do rigor que se impõe aos pesquisadores, para facilitar o entendimento de um público mais vasto.

Na sinopse da obra, salta à vista a descrição sobre o século XVII, em que a escravatura no Ndongo havia deixado de ser o destino apenas dos soldados que perdiam as guerras. Por força do aumento da procura e com a conveniência das autoridades locais, promoviam-se ataques para capturar aqueles que viviam pacificamente em suas povoações.

Os assaltos, cada vez mais frequentes, eram promovidos por traficantes estrangeiros para realizarem a queima de casas, morte de animais e destruição de lavoura. [...] Das regiões afectadas, milhares de pessoas conseguiam escapar e fugiam dispersas, vagando sem rumo pelas florestas ou chegando à sede do reino com muitas notícias de experiências pessoais traumáticas, dramas familiares e outras funestas ocorrências resultantes das ocupações.

Nesse caótico cenário, toda a actividade económica se tornara impossível e, com mais de cem anos de resistência, era chegado o momento de uma trégua. Para a consolidação da paz, desponta uma figura que reclama a viabilidade do seu povo o qual defende, portando uma mensagem alternativa com a qual, segundo ela, era possível estabelecer a amizade entre os reinos e considerar todos os interesses em presença.

João Mainsel é licenciado em Ciências Sociais, na especialidade de Ciência Política, pela Universidade Aberta de Lisboa; pós-graduado em administração, com ênfase em Gestão pela Fundação Getúlio Vargas no Brasil; e fez o seu Mestrado e doutoramento em administração de empresas pela Florida Christian University, Estados Unidos. Nos últimos anos tem actuado como empresário, conciliando com a pesquisa aplicada.