Estalou o verniz na companhia nacional de bandeira, TAAG. Em causa está uma extensa carta enviada ao Presidente da República, com conhecimento da Assembleia Nacional, sob o título "Livro aberto sobre verdades ocultas", a que o Novo Jornal teve acesso, na qual um colectivo de trabalhadores denuncia situações que estariam a "minar" a gestão de Peter Hill, o presidente do Conselho de Administração da transportadora aérea nacional, recentemente envolvido numa outra polémica, quando sugeriu que as empresas angolanas, em fase de reorganização, deveriam ser geridas por expatriados.

O documento, com a data de 28 de Outubro deste ano, que reclama "sinceridade e honestidade na abordagem do dossier TAAG" aos actuais gestores da companhia, expõe alegadas situações que vão desde aquilo que chamam de "política de intimidação, de ostracismo laboral e de caça às bruxas", ao "exercício da actividade laboral na ilegalidade", bem como denuncia "os salários fabulosos e regalias excessivas para os expatriados", entre outros assuntos correntes.

O colectivo de trabalhadores da TAAG reivindica o mérito aos seus feitos e repudia um alegado enaltecimento próprio por parte da actual administração que, segundo acusam, "aproveitando-se dos feitos de outrem [...] atribui a si nas suas dissertações ou entrevistas com os órgãos de difusão massiva", a responsabilidade pelos últimos ganhos conseguidos pela companhia (saída da lista negra da União Europeia, que permitiu à TAAG voltar a voar o espaço europeu sem restrições).

Neste sentido, o colectivo de funcionários, que não se identifica nominalmente, repudia um suposto envolvimento do titular da pasta dos Transportes, Augusto Tomás da Silva, e do vice-presidente da TAAG, Joaquim Teixeira da Cunha, numa tentativa de "clarear a imagem dos técnicos expatriados utilizando as conquistas do trabalho dos sacrificados angolanos para servir de pomada para abrilhantar o tão escurecido e invisível trabalho dos estrangeiros".

Questionado acordo com a Emirates

Os queixosos questionam igualmente uma informação já anteriormente feita chegar ao Presidente José Eduardo dos Santos, referente ao acordo de parceria com a Emirates que, de acordo com o documento, teria sido rompido. Mas até agora, avisam, o titular dos Transportes "não se pronunciou sobre este assunto de interesse da nação".

Na entrevista concedida ao semaná- rio Valor Económico, Peter Hill havia assumido que administração da TAAG economizou 70 milhões de dólares desde a sua chegada, a esse valor junta-se os 50 milhões de dólares que tiveram de aprovisionar para as contas deste ano e do ano anterior, que faz, na realidade, um total de 120 milhões de dólares.

Os subscritores da missiva ao Presidente da República consideram que, a ser verdade [a informação], a actual gestão estaria a "imprimir uma gestão de velocidade de cruzeiro, pois que na tomada de posse o senhor Peter Hill havia afirmado que até 2019 a TAAG irá obter um lucro de 100 milhões de dólares, e o senhor vice-presidente - o único administrador executivo da parte angolana - abordado por um jornalista sobre quando começariam a surgir os resultados, o mesmo afirmou que os primeiros sinais se manifestariam apenas a partir de 2018".

O valor de 70 milhões de dólares que a administração diz ter poupado é classificado pelos subscritores do documento como sendo "um milagre na história das empresas públicas em Angola e não só". Mas contrariam o mérito reclamado por Peter Hill: "A ser verdade, é porque os actuais gestores encontraram uma TAAG bem estruturada, bem organizada e à altura de competir com qualquer companhia de referência regional e intercontinental. Não encontraram a TAAG na condição moribunda".

(Esta notícia está disponível em versão integral na edição nº 458 do Novo Jornal, nas bancas, ou em edição digital, que pode pagar em kwanzas via Multicaixa)