Ultrapassando a ciência e derrubando pela esquerda e pela direita as suas origens, fingem desconhecer a sua árvore "ginecológica", como diria um amigo de amigo meu que queria dizer, árvore genealógica...

De que falo? Não será, seguramente, da sucessão, sabendo que muitos dos meus amigos, não gostando que se fale no assunto, já se estão a comportar como "órfãos" de um tempo passado, relativamente ao qual não vão poder agora travar o vento com as mãos.

De quem falo? Dos jovens das "Jotas"? Não!

Lá dentro, mesmo sem o espírito de Maio de 68 ou a rebeldia estudantil de 74, há gente sem dúvida lúcida e com sangue na guelra.

Mas também há, por lá, gente com novos vícios, sujeitos de "tenra" idade que, estendendo a mão ao conservadorismo e ao tacho, se estão a revelar portadores de ideias tão ortodoxas que Donald Trump teria neles bons professores...

De quem falo?

Depende do estatuto. Se é para falar de pilha-galinhas, que por antecipação têm sempre garantido um julgamento sumário, o melhor é prestar atenção ao peixe graúdo, gente lavadora de fortunas, que não se apanha à linha.

Essa gente é gente "séria", que, resistindo ao arrastão e protegida pela "lei da impunidade", irmã gémea da "lei da imunidade", para fugir ao cerco dos organismos financeiros internacionais, está agora a drenar as suas fortunas para os países do leste europeu e a Turquia.

De quem falo? Dos jornalistas?

Coitados, esses rapazes não são tão maus como os querem pintar mas também não são tão santinhos como eles querem parecer.

É certo que não corrompem ninguém, mas, em contrapartida, gostam de ser corrompidos!

Como?

Vendendo a sua consciência. Aceitando deixar de ser livres a pensar e a escrever. Desconfiam-se entre si e fazem o jogo duplo de uns grupos contra outros.

Não têm apenas problemas de ordenados. De emprego. Ou de sobrevivência. Não. Pertencem a uma classe que não é coesa.

Os jornalistas mais velhos pensam que são insubstituíveis e os mais novos, que agridem a gramática portuguesa e pontapeiam as regras mais elementares da profissão, julgam que podem ser, à força, as novas vedetas de um jornalismo que se verga à autocensura e não resiste à propaganda estéril.

Pior do que isso é quando esse pretenso jornalismo, refugiado na cobardia da Internet, inventa notícias assassinas contra a vida de políticos, como aconteceu, esta semana, em relação ao Presidente.

Antes de terem a pretensão de falar dos outros poderes, os jornalistas (a cuja classe pertenço mas que nem sempre sinto dela orgulho) têm, pois, que pensar primeiro em fazer contas consigo próprios porque, em matéria de honradez, profissionalismo, isenção e seriedade, valem muito pouco!

É dos políticos que falo, então?

Também não. Porquê? Porque já não há políticos voluntários, convictos, honestos, sérios e visionários como antigamente. Hoje, a pátria para os nossos novos políticos é o dinheiro e os partidos que os acoitam são as suas empresas, que agora geram lucros fabulosos. Estão a caminho da Bodiva...

Não falo também daquele outro Presidente do Índico que se quis reproduzir à imagem e semelhança do que algures já existe desse lado do atlântico. E muito menos ainda da sua filha, "a miniprincesa" de Moçambique que por impulso das exportações de caju e de uma dívida pública embrulhada e escondida pela família quis erguer-se como uma "subsidiária" da rainha dos diamantes que temos por aqui.

Também não falo das extravagâncias dos "principezinhos" de lá, com comportamento decalcado, a papel químico, dos Nyusizinhos de cá....

Falo do crime organizado? Para quê falar dessa perigosa e quase que já incontrolável epidemia de insegurança pública se, como afiança a propaganda indígena, " está tudo sob controlo"?

Então de quem falo, afinal? Também não é ainda da famosa "Tribo do Futebol" magistralmente descrita em 1985 por Desmont Morris. Falo de uma outra tribo. Nem todos os membros dessa "tribo" são mal comportados mas lá que alguns deles, à falta de argumentos para sustentarem uma boa governação, expelem tiques de boçalismo, laivos de jactância e arrufos de arrogância, lá isso expelem.

São poucos os que recusam andar por esses carreiros, mas ainda bem que esses poucos, que fazem a diferença, sabem o que dizem e o que querem para a prosperidade das suas províncias. Graças a Deus...

Os outros, revelando-se mais sofisticados, posam agora para a plateia com relógios Rolex, fatos Prada, gravatas Boss, sapatos Louboutin, cintos Hermés, consomem vinhos franceses de 20 mil dólares à garrafa e habitam, no exterior de Angola, mansões de luxo.

Falo, pois, desses nossos "sobas" da era contemporânea , que ao descascarmos a sua verdadeira identidade como "entidades tradicionais", verificamos que, afinal, a sua única tradição é a partidarização do Estado.

Falo desses nossos minipresidentes em que para se investirem de soberania própria, só lhes falta içar uma bandeira e entoar o hino regional. Falo desses nossos presidentezitos, que, comportando-se como chefes tribais, perdidos no vazio do seu próprio discurso, espalham por todas as esquinas das suas zonas de jurisdição os horrores dos seus "Tom Tom Macutes" para amedrontar e afugentar os cidadãos.

Falo de uma espécie que sempre que sai à rua, como na capital, mergulha as urbes em "estado de sítio" e agoniza a liberdade de circulação das pessoas. Como na capital, é vê-la entrincheirada num formigueiro de viaturas, povoadas com guarda-costas armados até aos dentes, como se tivesse medo da sua própria sombra.

A uma velocidade estonteante, essa espécie não dispensa a companhia de ambulâncias, como se o seu estado de saúde inspirasse permanentemente cuidados excepcionais.

Quando estão doentes, seguindo o exemplo de quem manda neles, nunca recorrem aos hospitais locais; declarando falência ao Sistema Nacional de Saúde, tratam de imediato de ir até à capital bater à porta da tutela, para lhes assegurar a requisição de um bilhete de passagem de 1ª classe, Junta de Saúde e um fabuloso pacote de ajudas de custos para suportar a hospedagem em hotéis de cinco estrelas e as despesas médicas e medicamentosas em hospitais de excelência no estrangeiro... (...)

(Pode ler a crónica Palavra de Honra integral na edição nº 460 do Novo Jornal, nas bancas, ou em digital, que pode pagar por Multicaixa)