Embora se pense que os mecanismos estão a tornar-se cada vez mais sofisticados, há ainda formas de roubar e assaltar que seguem o velho ditado de que a ocasião faz o ladrão. Aproveitam quando ninguém está a ver e usam tácticas antigas para diminuir a capacidade das pessoas viverem com alegria e esperança.
Todos os dias ouvimos casos de subtracção de valores, por vezes com recurso à violência, a pessoas que acabam de sair do banco ou do multicaixa, viaturas são roubadas para fazer outros assaltos, casas são alvo de furtos que as deixam desprovidas de tudo o que é aparelho electrónico, entre outros. São raros os casos em que bens encontrados nos táxis ou na via pública são devolvidos aos donos originais.
O aumento do número de ocasiões é directamente proporcional ao incremento do número de ladrões. Há quem roube para sobreviver, mas há também quem defraude para grifar melhor, obter um telefone inteligente ou ainda para fazer companhia a outros larápios do erário público que, anos mais tarde, se tornam livres como passarinhos, ou que nunca deixam de o ser.
Na cidade, os roubos de galinhas deram lugar a gamanços de valores, pois já não há galinhas para roubar e mesmo que as houvesse elas fazem muito barulho e não compensam o esforço. Também não compensaria mesmo que fossem patos. O que parece compensar são os furtos de animais maiores como vacas e bois, mas esse é um assunto do sul de Angola, pois estes bovinos ruminantes não são vistos nas ruas de Luanda.
Na cidade, o furto é raro, isso é assunto do mato. O que está na moda é mesmo o roubo com recurso à violência. As pessoas não se sentem seguras na rua, nas suas casas, em nenhum lado. Os ladrões aparecem à porta das casas bem-vestidos, oferecendo produtos, cantigas, sonhos ou fingindo cobrar um serviço e minutos depois o cidadão vê-se amarrado, indefeso e mais pobre, quando não acontece o pior.
Os que buscam as ocasiões para se fazerem ladrões também inventam esquemas ardilosos para lucrarem com a ingenuidade do cidadão desprevenido que escorrega frequentemente na lábia do patife. Fazem telefonemas prometendo casas, carros e dinheiro e o cidadão cai redondo nessas ratoeiras acabando por dar sempre algo em troca, ficando mais pobre e frustrado.
No entanto existe ainda outro fenómeno crescente na nossa sociedade, que envolve a usurpação de bens imateriais e que aos poucos se vai espalhando de forma matreira e rasteira sem que as pessoas se apercebam. É assim em tempo de crise, enquanto uns apertam o cinto outros apertam o cerco.
Às pessoas é roubada a dignidade, a vontade de falar e contestar e vai-se incutindo, assim malembe malembe, a ideia de quem crítica está contra, mesmo que seja uma crítica construtiva para melhorar o município, o país. Nas entrelinhas vamos recebendo a mensagem de que somos livres mas sem a devida liberdade. A liberdade é condicionada a determinados elementos, pressuposições e vontades.