Malanje, município de Cangandala, no parque nacional com mesmo nome, é o local onde habita o antílope único no mundo. Várias notícias davam conta do total desaparecimento deste animal ou que existiria apenas noutras partes do mundo, consequência de uma possível migração ou da sua venda para outras nações. Mas tudo não passava de especulação. A palanca negra gigante, ainda que em número bastante reduzido, continuava a existir apenas em Angola, devidamente identificada.
O projecto de redescoberta da palanca negra gigante começou em 2003 , por intermédio de técnicos do ministério do Ambiente, também ligados à Fundação Kissama, com várias idas ao parque nacional da Cangandala.
Até 2005, havia apenas vestígios, pegadas. Mas, graças às fezes do animal, encontradas em pontos por onde passavam, foram feitas exames que confirmam que afinal a palanca estava viva naquele território, para alegria dos técnicos que trabalhavam no projecto, que tinha como propósito encontrar o animal e garantir que ele se mantém.
Com as câmaras de infravermelho foi possível obter as primeiras fotografias, divulgadas no dia 1 de Abril do mesmo ano, ante a incredulidade de algumas pessoas em função das notícias que são publicadas. Cangandala ocupa um terreno de 630 hectares que, no tempo colonial, tinha uma população estimada em perto de 2 000 animais.
Nesse mesmo local, foi encontrado um núcleo pequeno, que era, segundo os técnicos, um problema agravado pelo facto de haver híbridos entre os espécimes genuínos. Em 2009, uma primeira operação com helicópteros identifica as palancas na reserva do Luando, onde, por intermédio de viaturas, era impossível entrar nos pontos de concentração de algumas manadas. A informação correcta era dada por um dos antigos fiscais da reserva de Cangandala, actualmente pastor de palancas.
José Sacaia, de 62 anos, que, desde os seus 14, dedica a vida à identificação deste animal, que é considerado um dos principais símbolos do país. O s limites naturais do Luando e da Cangandala são os rios, facto que justifica a concentração das palancas durante muitos anos nesses dois pontos. Este animal não atravessa o rio e as condições ali existentes fazem com que não tenha necessidade de se movimentar.
Segundo os técnicos, a título de exemplo, esta espécie animal dificilmente sobreviveria na Kissama por ser um habitat completamente diferente. "Não há intenções da Fundação Kissama de conservar a Palanca fora das suas zonas originais", disse Vladimir Russo, técnico sénior da fundação Kissama e do ministério do Ambiente.
Todo esse processo envolveu uma campanha de reprodução, em que, na ausência de machos em Cangandala, as fêmeas puras cruzavam com outro tipo de machos, resultando no nascimento de híbridos, o que colocou a espécie sob ameaça. "Havia algumas fêmeas puras, mas não havia nenhum macho". Foi gizado um plano de transporte de um macho, do Luando para Cangandala, com a intenção de fazer a reprodução da espécie. Em 2013, uma outra campanha levou outro macho a Cangandala.
Ivan e Duarte são os nomes adoptados para identificação destes machos reprodutores. A intenção, uma vez mais, é de melhorar a população da Cangandala. Por esta região ser mais pequena e com uma população reduzida, a esperança, segundo Vladimir, reside no Luando, visto que não é viável levar a espécie para outro sítio.
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