Sete anos depois da Independência, Robert Mugabe, intoxicado pela propaganda marxista-leninista, não resistiu à tentação de acreditar que os seus seguidores poderiam metamorfosear-se em "homens novos" e criar uma ilusória sociedade sem classes...

E, por isso, não tardou a impor o progressivo triunfo do novo "templo" em que, perante a lenta asfixia da sociedade zimbabweana, como resultado da fusão do seu partido com a ZAPU, de Joshua N"Komo, se foi convertendo a ZANU-Frente Patriótica.

Uma vez no poder, por lá, foi fácil, deste modo, a Robert Mugabe passar a ser um consumidor de excelência do culto de personalidade erguido à volta da metastática figura de Kim Il Sung.

Por lá, foi fácil, deste modo, a Robert Mugabe transformar-se também em "parente" de Enver Hoxa e começar a levitar, fora do tempo, com as tirânicas misérias da revolução albanesa, sabendo, afinal, quem já era então Madre Teresa de Calcu(lar)...

Albânia igualitarista, China ruralizada, Roménia asfixiada, Hungria agonizada, Cuba atrasada e União Soviética opressora da antiga "Cortina de Ferro", era o que, no Zimbabwe, como por aqui, estava na moda.

E foi com essa moda que se moldou a democracia made in Zimbabwe. O sonho comandava, assim, a vida dos que, romantizados por ideais nobres mas muitas vezes traídos, um pouco por todo o lado, se sentiam arrebatados por Moscovo, vergados à Tirana, atraídos por Pequim, encantados com Havana, empolgados por Pyongyang ou embasbacados em Sófia...

Não tardou, por isso, que Robert Mugabe, acumulando há 35 anos a chefia do governo com a chefia do Estado, instaurasse um regime que passou a assoar com uma só narina...

Não tardou, por isso, que, no auge da sua ira antibritânica, e à pala da controvérsia de alguma forma alimentada pelo seu governo à volta da execução dos Acordos de Lancaster House, perseguisse os agricultores brancos, lhes expropriasse as terras e provocasse "a crise do ventre", que haveria de lançar para a miséria e para a fome milhares de famílias zimbabweanas.

Não tardou, por isso, que desencadeasse uma purga, sem precedentes, contra todos os seus opositores e, colérico, protagonizasse uma luta fratricida contra os homossexuais.

Não tardou, por isso, que tendo sido absoluta a sua entronização, absoluto seja também por lá como por aqui, o unanimismo e as suspeitas que lhes estão, inevitavelmente, associadas...

Não tardou, por isso que, por lá como por aqui, deixasse de haver votos contra ou mesmo até abstenções. Não tardou, por isso, que, por lá como por aqui, os votos passassem a ser "à albanesa" e os areópagos que os acolhem, maquilhados à imagem dos Congressos do Partido Comunista Chinês, mesmo que o Muro de Berlim tenha desabado há 28 anos e a Revolução de Outubro se prepare para completar, este ano, 100 anos...

Não tardou, por isso, que, por lá como por aqui, o espírito de clã passasse a ser, com os punhos cerrados, o espírito reinante. De braços no ar, os falantes, quedos e mudos, passaram a murmurar, por lá como por aqui, contra o muro.

(Este artigo pode ser lido na íntegra na edição semanal n.º 465 do Novo Jornal, nas bancas, ou em versão digital, que pode pagar via Multicaixa)