A Oferta Pública de Aquisição (OPA) do banco espanhol CaixaBank ao português BPI, que, por sua vez, tem 48 por cento do capital do angolano BFA, começa hoje e termina a 07 de Fevereiro, mantendo-se a questão da exposição aos riscos do sistema bancário angolano no centro das atenções.

Apesar de a empresária Isabel dos Santos, que controla cerca de 20 por cento do BPI, ter saído da "guerra" pelo valor da acção contido na OPA, 1,134 euros, muito abaixo daquilo que os pequenos accionistas exigem, Angola não perdeu peso em toda a trama que envolve o negócio.

Isto, porque, como hoje relata a imprensa portuguesa, grande parte do documento/prospecto que o CaixaBank emitiu para justificar o preço da oferta pelo BPI é utilizado para sublinhar a questão da elevada dependência que o banco português tem do BFA, que gera a maior parte dos seus lucros anuais, e sobre a crise da economia angolana, que, segundo o banco espanhol, constitui um risco alto, servindo-se disso para justificar o preço baixo da OPA.

E é por isso que os espanhóis admitem agora, segundo a Lusa, reduzir a participação do BPI no BFA, embora não esteja claro se se trata de uma "jogada" para retirar campo de manobra às reivindicações dos pequenos accionistas, liderados pelo Grupo Violas, o maior accionista português, com pouco mais de dois por cento do banco.

Esta intenção, revelada na documentação disponibilizada na Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), surge depois de o BPI ter vendido por 28 milhões de euros os dois por cento do BFA à UNITEL, descendo assim a exposição aos riscos apontados pelo Banco Central Europeu (BCE) existentes no sistema bancário angolano e que resultam da supervisão do BNA que é "incompatível" com as exigências europeias.

No meio deste intrincado processo, onde já tudo era relativamente esperado, como o avançar da OPA, a oposição dos pequenos accionistas ao valor oferecido pelo CaixaBank, há um dado novo: a vontade agora assumida pelo CaixaBank de iniciar aquilo que parece ser uma retirada estratégica de Angola.

Como justificação, os espanhóis apontam a elevada dependência da actividade internacional do BPI para a obtenção de resultados anuais, sendo especialmente relevante a parte angolana desta actividade, conjugando na mesma linha de raciocínio a crise que o país atravessa e os riscos a ela inerentes.

Todavia, mesmo com a crise, em 2016 mais de metade dos lucros do BPI deveram-se à actividade em Angola e, no futuro, se tudo continuasse igual, as coisas não seriam muito diferentes porque o BPI continuaria a contar com 48 por cento dos resultados do BFA nas suas contas anuais.

Mas, apesar de a crise angolana não ter engolido os lucros do BPI, os futuros donos do banco, se a OPA terminar com sucesso a 07 de Fevereiro próximo, temem que a "elevada dependência" que a economia de Angola tem do petróleo e isso significa que "a descida do preço do petróleo aumenta consideravelmente a vulnerabilidade externa do país", sem esquecer a progressiva desvalorização do Kwanza.

O CaixaBank sublinha ainda, como avança hoje o Negócios, as restrições às operações cambiais e alerta que a participação de 48,1 por cento no BFA "é altamente ilíquida", porque, "dado o direito de preferência da UNITEL e as circunstâncias do activo, é, na prática, muito difícil encontrar investidores diferentes da UNITEL dispostos a comprar as acções do BPI no BFA".

É por isto que o CaixaBank já avisou que vai dar seguimento a um plano de acentuado desinvestimento no BFA, embora esteja ainda por decidir se será de forma parcial, mesmo que isso já tenha acontecido quando o BPI vendeu os dois por cento à UNITEL, ficando em minoria, ou na totalidade, alienando os 48,1 por cento que possui no Banco de Fomento de Angola.

Uma das perguntas que ficam por responder, em caso de se concretizar este "desinvestimento" do BPI no BFA, é saber quem poderá substituir o banco "português", sendo apenas claro que isto significará uma forte diminuição da presença portuguesa na banca angolana.