Apesar de os rumores sobre o fim do Colégio Turco terem começado há meses, os encarregados de educação dos alunos deste estabelecimento, sito na zona do Kifica, no bairro Benfica, alegam que foram apanhados de surpresa com a ordem de encerramento do Ministério da Educação.

De acordo com um despacho assinado pelo ministro Pinda Simão, datado de 7 de Fevereiro e com efeitos imediatos, o Colégio Esperança Internacional é encerrado, devendo a direcção proceder à entrega, no prazo de oito dias, "de toda a documentação fundamental, como os documentos legais da instituição, processos individuais dos alunos, contratos e cadastro do corpo docente e administrativo".

A determinação do Ministério da Educação, formalizada na última terça-feira e que não especifica as razões da decisão, virou hoje do avesso as instalações do colégio, conforme indicam vários testemunhos chegados esta tarde à redação do Novo Jornal online.

Além de relatarem a presença de um forte dispositivo de segurança no estabelecimento, onde polícias armados terão tomado o colégio de assalto e detido vários professores, sob a orientação de responsáveis do ministério da Educação e do Serviço de Migração e Estrangeiros, os encarregados questionam por que razão os responsáveis permitiram que o ano lectivo iniciasse.

A polémica remonta ao final de Outubro de 2016, altura em que o Novo Jornal noticiou a existência de uma notificação verbal de que o colégio foi alvo para encerrar actividade.

Foram portadores da referida informação, segundo apurou na altura o Novo Jornal junto de fontes daquele estabelecimento privado de ensino, o director do Ensino Geral, a directora do gabinete jurídico do Ministério da Educação e o director de intercâmbio do mesmo Ministério, que, no dia 5 de Outubro, pelas 19h00, se deslocaram àquela instância para comunicar a decisão de encerramento sem, no entanto, apresentarem as razões.

A informação, que teria criado um mau clima entre os professores, estudantes e encarregados de educação, foi prontamente associada a pressões que o governo turco estaria a exercer sobre as autoridades angolanas no sentido de fechar o colégio por alegada ligação ao clérigo muçulmano Fethullah Gulen, que se auto-exilou nos Estados Unidos em 2000, e que está a ser acusado pelo Presidente Recep Tayyip Erdogan, seu antigo amigo, de ter engendrado a frustrada tentativa de golpe de Estado na Turquia, a 15 de Julho de 2016.

Soma diz colégio está legal

A notícia espalhou-se rapidamente e chegou inclusive a condicionar a abertura do processo de confirmações e matrículas para o ano lectivo 2017, após a presença no colégio do director provincial da educação, André Soma, que deu garantias e tranquilizou os encarregados de que o colégio estava em situação legal e que o ano presente ano lectivo terminaria sem sobressaltos.

No diálogo que estabeleceu com os encarregados, André Soma não deixou, contudo, claro o que iria acontecer em 2017.

Encarregados com outra versão

Para alguns encarregados de educação ouvidos pelo Novo Jornal no final do ano passado o Colégio Angolano do Talatona (CAT) está no centro da polémica. Segundo contaram, um suposto jogo de interesses provocado pela concorrência que estaria a ser mal digerida pelo CAT teria levado a que pessoas com influência recorressem às autoridades angolanas para o encerramento do colégio turco. Em causa, contaram, estariam alguns antecedentes que ligam professores que teriam sido recrutados nas vésperas da abertura deste colégio em Talatona e alguns estudantes teriam feito o caminho inverso, regressando ao colégio Esperança Internacional. Uma fonte do CAT disse ao NJ que as acusações já são do conhecimento da direcção.

No ano lectivo de 2016, o Colégio Turco acolhia 738 estudantes, entre angolanos e estrangeiros, e 90 funcionários, desde docentes turcos e angolanos, a pessoal dos serviços gerais e apoio.