Ao dinamismo do primeiro, repleto de iniciativas que têm por epicentro a preocupação da apresentação do seu cabeça de lista ao eleitorado, opõe-se uma aparente apatia dos segundos que até ao momento revelam dificuldades de diversa ordem, a começar pela apresentação pública da sua lista completa de candidatos.

Os analistas independentes, ou não comprometidos com uma defesa mais ou menos incondicional da manutenção do MPLA no poder, coincidem na atribuição de responsabilidades à oposição por essas dificuldades, salientando-se o facto de eles não se mostrarem suficientemente capazes de fazer o que lhes compete, nomeadamente na apresentação das razões que acham que lhes assiste na denúncia das possíveis irregularidades processuais.

Por exemplo, ao insistirem na ideia de que o processo está a ser, ou pode vir a ser, fraudulento sem a correspondente apresentação de evidências factuais à Comissão Nacional Eleitoral é, no mínimo, pouco inteligente e revelador da fragilidade dos partidos da oposição em termos de imaginação, de organização e sobretudo de capacidade de trabalho.

Na verdade, os caminhos escolhidos em defesa da sua tese são exigentes em termos de trabalho e caso não sejam devidamente trilhados não serão convincentes e poderão confirmar uma hipótese de partida que não é inocente - com esta oposição a mudança para melhor não parece possível.

Assim sendo, melhor será manter o status quo. Trocar o certo, ainda que muito inquinado, pelo incerto, é, para muita gente, principalmente a melhor instalada na vida, pouco atractivo e pouco inteligente.

Porém, a realidade aconselha análises mais finas e atitudes melhor pensadas. Porque esta situação não é fruto, apenas, da tal incapacidade apontada.

Na verdade, não há apreciação crítica mais consensual por parte de quem não faz parte do jogo do que o modo como a comunicação social pública se comporta no tratamento dos diferentes partidos e respectivas lideranças.

O jogo viciado é tão evidente que até individualidades ligadas ao poder se mostram muito pouco confortáveis perante tamanha parcialidade e favorecimento do candidato do poder, até porque tal comportamento pode vir a ter efeitos perversos.

O jornalista Ismael Mateus tratou muito bem esta matéria neste periódico ao dizer que as acções da comunicação social, ao insistirem, por exemplo, na apresentação diária e destacada da figura de João Lourenço associada a actos banais, podem instalar nos eleitores a dúvida de que ele venha a ser capaz de protagonizar as mudanças esperadas, do mesmo modo que se atribui à oposição a tal incapacidade de convencer quem deve ser convencido de que ela possa vir a fazê-lo.

Os partidos da oposição não podem, pois, limitar-se à simples denúncia abstracta. A título de exemplo, não se entende como tais partidos não dedicam alguns recursos mínimos, como tempo de trabalho, na quantificação dos espaços dedicados pelos media às diferentes forças políticas.

O jornalista Rosado de Carvalho - que recentemente foi vítima de um soez ataque nas redes sociais a coberto de anonimato cobarde pela coragem e pertinência das suas denúncias sobre os maus caminhos da governação e da economia -, mostrou na sua conta do Facebook, com grafismos sugestivos, que no Telejornal da Televisão Pública de Angola (TPA) das 20.00 horas de sábado, dia 25 de Março de 2017 o candidato do João Lourenço beneficiou de 38 minutos num conjunto informativo total de 68 minutos, enquanto a UNITA mereceu apenas dois minutos.

*Membro do Observatório Político e Social de Angola (OPSA)

(Leia a opinião de Fernando Pacheco na íntegra na edição 479 do Novo Jornal, nas bancas e também disponível por assinatura digital, que pode pagar no Multicaixa)