Esta notícia foi divulgada pelo jornal brasileiro O Globo e faz a ligação directa entre o Presidente brasileiro e a sucessão de escândalos de corrupção do universo Lava Jato, com algumas das maiores empresas brasileiras, como é o caso da Petrobras e da Odebrecht, no centro do terramoto judicial.

Recorde-se que Eduardo Cunha, enquanto presidente da Câmara dos Deputados, esteve na linha da frente do processo de destituição, "impeachment", da ex-Presidente Dilma Rousseff, que abandonou o cargo por um delito dado como provado mas ainda sob contestação, e que o Partido Trabalhista de Dilma e Lula da Silva garante que resultou de um processo forjado e ilegal.

A gravação, feita no Palácio de Jaburu, residência oficial do PR do Brasil, foi conseguida por Joesley Batista e Wesley Batista, dois irmãos e empresários do sector das carnes que foram ao encontro do Ministério Público Federal e do juiz Fachin, que tem em mãos o processo Lava Jato no Supremo Tribunal, propondo um acordo de delação a troco de favores judiciais como reduções de pena, entre outros (legal no Brasil).

O Globo chegou mesmo a transcrever partes da gravação onde Temer não só concorda com o suborno dos empresários a Eduardo Cunha, como diz para o manterem, referindo-se a uma alegada mesada paga ao antigo líder da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha:

"Tem de manter isso, viu", disse Temer depois de ouvir Joesley Batista a informá-lo de que mantinha uma entrega semanal em dinheiro na prisão a Cunha.

Temer nega tudo

A este relato, que, a ser verdade, por muito menos caiu Dilma Rousseff, pode levar à queda de Michel Temer por "impeachment", o Chefe de Estado brasileiro respondeu em comunicado que "jamais solicitou pagamentos para obter o silêncio de ex-deputado Eduardo Cunha".

A Presidência afirma ainda no mesmo documento que Temer "não participou e nem autorizou qualquer movimento com o objectivo de evitar delação ou colaboração com a Justiça pelo ex-parlamentar".

Todavia, Temer admite o encontro com Batista mas recusa quaisquer pronunciamentos no sentido que a notícia do jornal O Globo aponta e que, a serem verdade, o que tudo indica que seja porque o periódico divulgou parte da gravação, o comprometem de uma forma que pode ser definitiva.

Recorde-se que o Brasil está envolto numa série de escândalos de corrupção que envolvem uma grande parte dos dirigentes políticos e empresários de topo, enquadrados pelo chamado processo Lava Jato, uma operação e investigação federal que, entre outras consequências, levou à detenção dos chefões da Odebrecht e da Petrobras, e à prisão de vários políticos, havendo ligações internacionais importantes e em cujo mapa também está Angola, nomeadamente por alegados subornos pagos pela construtora Odebrecht a dirigentes políticos para ganhar concursos e empreitadas.

"Impeachment" à porta

O processo jurídico-político que permitiu a Temer subir ao cargo de Presidente, o "impeachment" a Dilma Rousseff, surge agora como uma possível escada por onde o actual Presidente pode descer do pedestal.

Isto, porque já deu entrada, quarta-feira, na secretaria-geral da Câmara Baixa do Parlamento brasileiro um processo de destituição de Michel temer, da autoria do deputado Alessandro Molon, da Rede.

A justificação é precisamente a gravação divulgada pelo O Globo, onde Temer surje a defender e a pedir que se mantenha o suborno a Eduardo Cunha para que este se mantenha calado e não o comprometa com o muito que sabe.

Pelas redes sociais, Molon fez saber que já avançou com "um pedido de impeachment de Michel Temer com base nesta denúncia, nessa delação, que trata do pedido de manutenção do pagamento de suborno para Eduardo Cunha para que ele manter o seu silêncio".