Para Angola, esta reunião assume especial relevância porque, sem esconder a sua petro-dependência, nem tão pouco a vontade de se livrar dela através da diversificação do seu aparelho produtivo, os recentes aumentos do preço do barril, conseguidos com o acordo em vigor, para o qual contribui com um corte de 78 mil barris por dia (bpd) nos 1,8 milhões no total, não são suficientes para se livrar dos tremendos constrangimentos que vive, sendo a crise de divisas a face mais visível do problema.

Mesmo que seja já evidente que o recente anúncio da petrolífera de bandeira, a Sonangol, de um aumento em mais de 50 por cento as receitas fiscais geradas com o negócio do petróleo entre Fevereiro e Março, o que já não acontecia há mais de 18 meses, se deve ao acordo da OPEP+Rússia que, entre os "teasers" das negociações e a aplicação de facto dos cortes levou o barril a sair do buraco dos 20 dólares em Fevereiro de 2016 para os mais calmos 55 dólares actuais, a verdade é que Angola quer mais valor acrescentado ao seu petróleo... Tudo indica que assim vá ser.

Mas a desfocagem entre a importância e o potencial de gerar surpresas do "meeting" de hoje em Viena de Áustria resulta da circunstância de já ser conhecida a posição da Arábia Saudita, o maior produtor mundial e membro da OPEP, e a Rússia, o 3º maior extractor de crude do mundo, que está no acordo sem ser membro do "cartel", no sentido de prolongar o contrato em vigor, inicialmente previsto até 30 de Junho próximo, por, pelo menos, mais nove meses, atirando o novo prazo para finais de Março de 2018.

Ora, em números, o impacto traduz-se por menos 324 milhões de bpd nos seis meses acordados, mas esta quantidade de petróleo enxugado do mercado será acrescida de mais quase 500 milhões bpd até Março de 2018, numa altura em que as maiores economias mundiais começam a dar sinais de estarem a ser, finalmente, "vítimas" desta estratégia de cortes da OPEP+Rússia, onde estão igualmente o México ou o Cazaquistão.

Prova disso é o anúncio recente das autoridades do sector norte-americanas de que os seus stocks minguaram em mais de cinco milhões de barris, apesar de os EUA estarem a aumentar significativamente a sua produção anual, que já é muito grande, mais de 10,5 milhões bpd, sendo mesmo o segundo maior produtor em todo o mundo.

Outro elemento que não pode ser subtraído a esta equação é que a OPEP, ao contrário do que muitos esperavam, e contrariando o registo histórico de incumprimento de quase todos os acordos similares, desta vez está a superar as expectativas e os cortes anunciados terão mesmo sido superados, como o demonstram os registos feitos pelo comité ministerial criado no seio da organização para vigiar o cumprimento do acordo em todos os signatários, atingindo os 102 por cento de cumprimento.

Este é um dos sinais mais claros de que o assunto é sério e que os mercados vão mesmo ter de pagar mais por cada barril adquirido no advir breve.

Portanto, mesmo antes de a reunião ter lugar, sabe-se já que os cortes vão ser prolongados para Março de 2018, sendo aqui a eventual surpresa o encolhimento para apenas seis meses, o que só será possível se o único pais que ainda não mostrou simpatia por mais cortes que ocorreram durante 2017, o Cazaquistão, pudesse influenciar todos os outros. Não parece possível.

Assim sendo, o barril de crude vendido em Londres, o Brent (referência para as exportações angolanas), que já subiu mais de cinco dólares na última semana, mesmo tratando-se de quase adivinhação, sintetizando as opiniões de especialistas ouvidos pelos sites mais especializados no sector petrolífero , poderá, até Dezembro deste ano, alcançar os valores considerados óptimos pelo ministro dos Petróleo angolano, Botelho de Vasconcelos, que, ao longo dos últimos dois anos, foi assumindo posições relativamente tímidas sobre esta matéria mas que se pode dizer com algum à-vontade que considera os 70 USD por barril como o objectivo a alcançar.

O que parece não fazer sentido, como se chegou a aventar nos últimos dias, é que a OPEP e os não-membros, possam, para além de estender o prazo do acordo, aumentar os cortes de 1,8 milhões de barris por dia para os 2 milhões ou mais, até porque isso poderia ser um incentivo redobrado a um "boost" na produção do petróleo de xisto nos EUA, ou "fracking", que é o que a Arábia Saudita e a Rússia & Co. mais temem.

Isto, porque foi precisamente a baixa no preço do barril que levou o sector alternativo do fracking à falência generalizada, depois de ter explodido a produção quando o barril passou dos 70 dólares, pouco antes de 2008, visto que é esse o valor que permite a obtenção de lucros devido aos altos custos desta produção por barril, que se crê estar à volta dos 60 USD, valor a partir do qual a sua produção é rentável.

Sendo claramente uma boa notícia para os produtores de petróleo e uma menos boa notícia para os países que não produzem, quem mais tem a ganhar com esta situação, se não acontecer uma reviravolta no cenário, são países a atravessar crises económicas severas, na primeira linha a Venezuela, a Nigéria e a Rússia, mas Angola não foge a este conjunto de atolados na esperança de que o barril suba, suba... e quanto mais, melhor.