De acordo com informação disponibilizada pela fundação criada pelo empresário congolês-democrático e marido da empresária angolana Isabel dos Santos, as seis peças que agora regressam ao país de origem foram descobertas em colecções privadas no âmbito do projecto com esse fim lançado em 2015 pela sua fundação.

Desde o lançamento deste projecto, a Fundação Sindika Dokolo já recuperou 16 das mais de uma centena de peças que se sabe terem sido roubadas do Museu do Dundo, um dos mais representativos da cultura e arte angolanas.

A maioria das peças de arte desaparecidas deste museu foram introduzidas no mercado internacional de arte e acabaram "escondidas" em colecções privadas e algumas, poucas, em museus, porque, sem registo de origem, uma boa parte delas conseguiu ser distribuída pelo mundo de coleccionadores que as poderão ter adquirido sem conhecimento de estarem a praticar uma ilegalidade.

Entre as seis peças que agora voltam a Angola estão máscaras centenárias e estátuas construídas e elaboradas com madeira e outros materiais, incluindo metais, pelas diversas etnias existentes em território angolano, para além de uma cadeira de chefe Tchokwe, um cachimbo trabalhado e utensílios, como um banco ou uma vasilha para cozinhar.

Para além das 16 já encontradas e devolvidas a Angola, a Fundação Sindika Dokolo e os seus investigadores já sabem do paradeiro de pelo menos 60, cujo processo de repatriamento está em curso, embora em diferentes estádios, sendo que, nalguns dos casos, os actuais "proprietários" ainda desconhecem o processo em curso.

Para maximizar o sucesso desta empreitada, a Fundação prepara-se para lançar uma base de dados online com a esmagadora maioria dos objectos de arte roubados em Angola, incluindo detalhes como a origem e pormenores relacionados com as peças propriamente ditas, incluindo imagens sempre que for possível.

Uma das vantagens deste tipo de ferramenta online é que aqueles que possuem nas suas colecções peças roubadas em Angola passam a saber, se ainda não tinham disso conhecimento, que estão detentores de arte roubada e são impelidos a proceder à sua devolução.

Alguns, como o próprio Sindika Dokolo já disse publicamente, aceitam devolver os items mas só se forem ressarcidos do dinheiro que por elas pagaram, embora alguns, mais conscientes, já tenham feito a devolução de algumas peças por motu próprio.

Um destes casos é o próprio Sindika Dokolo quando descobriu que uma das peças que estava a ser procurada, através do trabalho de um dos seus investigadores, estava na sua colecção privada e tinha sido adquirida num leilão internacional há uma dezena de anos, como confidenciou o próprio ao The Art Newspaper.

O Museu do Dundo, de onde foram roubadas a maior parte das peças em questão, foi criado em 1936 pela então Diamang, a diamantífera angolana-colonial, a partir da colecção privada de José Redinha, um dos seus administradores e amante de arte africana.