Num extenso comunicado divulgado ao final do dia de quarta-feira, dia seguinte à emissão da entrevista a Álvaro Sobrinho na TPA, os signatários do documento, todos ligados através da composição societária do Banco Económico, instituição bancária que resultou dos remanescentes da falência do BESA, acusam o empresário de ter feito acusações "falsas" e "caluniosas" e de ter distorcido os factos com mentiras evidentes.

Uma das acusações feitas pelo banqueiro na entrevista à TPA foi que o BESA não estava em tão más condições que estivesse obrigado a declarar falência mas que isso sucedeu porque os seus principais accionistas assim o decidiram depois de uma assembleia onde Sobrinho se viu perante um cenário rodeado de algumas das mais importantes figuras da política angolana, que não lhe deixaram hipótese de se defender.

Numa das passagens da entrevista, Álvaro Sobrinho diz mesmo que foi avisado para estar calado senão sofreria represálias, inclusive ser preso, ao mesmo tempo que era aconselhado a deixar o país rapidamente.

Manuel Vicente, em nome do então Presidente da República José Eduardo dos Santos, o ex-ministro de Estado e chefe da Casa Militar Hélder Vieira Dias "Kopelipa", pela Portmill, a Geni, representada pelo general Leopoldino do Nascimento, Ricardo Salgado, pelo Banco Espírito Santo (Portugal) e o ex-presidente da Assembleia Nacional Paulo Kassoma, presidente de Mesa da Assembleia e actual PCA (na foto), eram os grandes accionistas, segundo Sobrinho, e também os maiores detentores de crédito concedido pela instituição bancária.

"O banco faliu por decisão política, tendo em conta as pessoas nele envolvidas. Por isso, digo que era uma decisão política", "disse o empresário numa das mais polémicas declarações produzidas ao longo da entrevista, igualada por aquela onde Sobrinho defende a ideia de que a prova de que o BESA não faliu é a existência do Banco Económico, cuja composição de accionistas é em tudo semelhante à do banco declarado falido.

Álvaro Sobrinho defendeu o seu ponto de vista lembrando ainda que nem os auditores oficiais nem qualquer organismo de supervisão, como os bancos centrais, viram razões para apontar a falência como único caminho do BESA, reafirmando que isso aconteceu por decisão dos accionistas que eram, ao mesmo tempo, representantes ou detentores de cargos políticos de primeira linha no país.

A ideia que Álvaro Sobrinho procurou erguer nesta entrevista é a de que foi usado pelos accionistas em questão para carregar com a culpa da falência do BESA, impedindo-o de se defender durante vários anos - pelo menos desde 2012 -, tendo sido obrigado a sair do país face à ameaça de ir para a prisão por ordem directa do Presidente da República da altura, a quem os accionistas presentes disseram que iam reportar a sua decisão caso não aceitasse a condição que lhe estava a ser imposta, impedindo-o de esboçar qualquer tentativa para se defender, não deixando alternativa à sua saída de Angola, com, pelo meio, o "conselho" para que assumisse todas as responsabilidades sobre, por exemplo, créditos irrecuperáveis.

Com as mudanças vividas em Angola, Sobrinho explicou ainda que a sua perspectiva agora é permanecer no país, onde pensa investir em vários sectores, admitindo como melhores possibilidades a área da aquacultura e da produção de medicamentos génericos, não fechando a porta a outras áreas, como o turismo, onde já tem presença.

O banqueiro disse, a determinado ponto da entrevista à televisão pública angolana que esta só estava a acontecer porque tinha ocorrido uma mudança clara na forma como o poder encara a liberdade de expressão, havendo agora maior liberdade no país.

Accionistas do Banco Económico não tardaram a reagir com veemência

"Falsas e caluniosas" é como entendem as afirmações de Álvaro Sobrinho, a quem acusam de ter mentido de forma evidente, deturpando os factos como eles ocorreram.

No mesmo comunicado, pedem a intervenção da Procuradoria-Geral da República e do Banco Nacional de Angola, lembrando que o governador do BNA à época é o mesmo que está no cargo actualmente, José de Lima Massano, que, por isso, é pessoa com total idoneidade para se pronunciar sobre esta situação.

Lembram que, ao contrário do que Sobrinho pretende enfatizar, tiveram grandes perdas com a falência do BESA, garantem que têm "total disponibilidade" para esclarecer o caso e que "não houve qualquer decisão política" por detrás da falência do BESA em Outubro de 2014, acusando o empresário e banqueiro de ter sido responsável pelo desfecho, inclusive por ter tirado dinheiro ao banco, apontando como exemplos "transferências para contas suas ou de familiares e amigos", indicando mesmo os nomes dos veículos utilizados.

Recorrendo mesmo a expressões como "gestão danosa" e de ter mostrado ter "motivações inconfessas" ao tentar "enlamear os nomes de pessoas e identidades que lesou com as suas falsas declarações"

Os accionistas do BE incluem neste comunicado, que serve de resposta às acusações de Sobrinho, alguns anexos com comunicados do BNA e do Banco de Portugal dos quais destacam algumas passagens que dizem comprovar o que dizem sobre as motivações da falência do BESA, procurando expurgar da equação a questão da falência de génese política.

Outra questão abordada no comunicado, incidindo sobre mais uma das polémicas levantadas na entrevista à TPA, é a alegada ausência de solidariedade dos angolanos face às acusações de Ricardo Salgado, "dono" do grupo GES e do BES (Portugal), na tal decisiva assembleia geral de accionistas onde Sobrinho entende ter sido encostado à parede sem possibilidade de se defender e com severas ameaças de represálias a pender sobre a sua cabeça.

Os accionistas e o presidente do conselho de administração do BE garantem que Sobrinho mentiu sobre essa matéria porque em 2012 "face ao recurso excessivo ao redesconto e às dificuldades no mercado interbancário", o governo angolano convocou uma reunião para analisar a situação no BESA, onde esteve presente o, à época, ministro das Finanças, Carlos Alberto Lopes, e, entre outros, o então ministro de Estado e Chefe da Casa Civil, Carlos Maria Feijó, que defenderam os argumentos utilizados pelo "senhor Álvaro Sobrinho" face às dúvidas levantadas pelo BNA para a continuidade do BESA.