Esta informação da Moody"s surge depois de a possibilidade de renegociação da dívida ter sido assumida, "de forma ambígua", como possibilidade na semana passada pelo ministro das Finanças, Archer Mangueira, durante a apresentação do Programa de Estabilização Financeira.

Considerando que as declarações do ministro das Finanças foram "ambíguas", a Moody"s nota que as recentes alterações ao regime cambial em Angola e a subsequente desvalorização do Kwanza escondem "pressões sobre o `rating" do seu crédito, que resultam do risco de queda nos seus níveis de crescimento e de liquidez.

No documento enviado pela Moody"s aos media em Londres, segundo a Reuters, a Lusa e outras agências, no entanto, "uma reestruturação da dívida soberana de Angola que implique perdas para os credores terá consequências no 'rating' do país".

O "rating" do país tem influência directa nos juros pagos pelos empréstimos obtidos nos mercados financeiros internacionais.

"Se se tornar claro que as renegociações foram de facto contempladas, isso poderia levar a um evento que a Moody's consideraria um incumprimento financeiro, (e nesse caso) a Moody's asseguraria que a avaliação do perfil de crédito era consistente com o aumento da probabilidade de um incumprimento financeiro", escrevem os analistas, numa nota de análise citada pela Lusa.

A Moody"s, sublinhando que manteve conversações recentes com o Governo angolano, nota que as autoridades de Luanda, apesar das "ambiguidades", não estão a pensar em dar início a negociações com os credores sobre uma eventual renegociação, sublinhando que isso sim, seria enquadrável na avaliação de "incumprimento" da agência de "rating".

Como lembra a Lusa, nas definições metodológicas da Moody's, um evento de crédito considerado um 'default' acontece sempre que o Governo propõe aos credores uma renegociação da dívida que implique alterações nos prazos ou nos montantes do pagamento, à semelhança do que aconteceu com Moçambique em 2016, quando propôs aos credores receberem juros mais elevados e um alargamento do prazo de pagamento do montante investido inicialmente.

No comentário hoje emitido, a Moody's explica que não antecipa que isto vá acontecer, notando que encara como provável que o Governo tente apenas renegociar os empréstimos, o que, na definição metodológica da agência de notação financeira, não implica um 'default' e consequente descida do 'rating'.

Devido ao fim da indexação do kwanza ao dólar, a moeda angolana deve desvalorizar-se e aumentar o rácio da dívida pública face ao PIB, o que aumenta automaticamente o custo da dívida, lembrando ainda a organização financeira que vai manter um "acompanhamento de proximidade à gestão financeira" angolana.

"Confrontado com a perspectiva de um aumento do peso da dívida e dos custos de refinanciamento, o Governo quer melhorar a composição e o perfil da sua dívida, tentando, sempre que possível, trocar dívida de curto prazo e dívida em moeda estrangeira por instrumentos de longo prazo", diz a Moody's.