No último relatório periódico que libertou a partir da sua sede, em Viena de Áustria, a OPEP não podia ser mais optimista, apontando para um aumento na procura mundial por petróleo e para uma descida considerável das reservas das maiores economias globais.

Esta visão positiva, do ponto de vista dos países produtores, não abrange só este ano mas também 2018, onde a procura crescerá 1,51 milhões de barris por dia (mbpd), quase 130 mil barris a mais do que aquilo que estava previsto no anterior documento de análise divulgado perlo "cartel" sobre as perspectivas para o ano que vem.

Mas este documento da OPEP tem ainda outra informação relevante para os países produtores com elevada dependência desta matéria-prima, como é o caso de Angola: nota que os mercados "avançam para o equilíbrio" entre a oferta e a procura, que é o objectivo maior do acordo de cortes na produção de 1,8 mbpd assinado em 2016 entre a OPEP e outros 10 países não-membros liderados pela Rússia, que deverá ser prolongado no final deste mês para Dezembro de 2018.

A questão do "equilíbrio nos mercados" é essencial para que os países produtores possam restabelecer e reconquistar a normalidade para as suas economias, extremamente degradadas com a crise nos preços iniciada em 2014, onde o barril iniciou o trambolhão dos 120 dólares norte-americanos para os pouco mais de 20 a que chegou no início de 2016, dando início a um pânico generalizado e condenando os membros da organização a agir de forma concertada e eficazmente.

Para onde for a economia global, vai o barril...

Como pano de fundo para este cenário optimista plasmado pelo "cartel" no seu relatório mensal referente a Outubro, está a melhoria substancial da economia global, empurrada em grande medida pelos tradicionais maiores consumidores de petróleo: China, Japão, EUA e Índia, embora os emergentes, Rússia e Brasil também estejam a participar neste conjunto.

Os relatores da OPEP, organização composta por 14 membros, entre estes o maior produtor mundial, a Arábia Saudita, mas que conta agora com o apoio do 3º maior, a Rússia, crêem que o aumento da procura estimado para 2018 resulta de um forte crescimento da economia global, que poderá ascender agora aos 3,7 por cento, quando no último relatório apontavam para "apenas" 3,5 por cento.

Uma das questões que os analistas citados pelas publicações especializadas têm estado a sublinhar nos últimos dias é se, com o desanuviar do pânico gerado pelos baixos preços, o que levou os membros da OPEP a encararem este esforço de cortes a sério, não poderá, com esta subida substancial do crude nos mercados, levar os países, tradicionalmente avessos a cumprir acordo, a voltarem subitamente aos velhos hábitos de subversão, produzindo mais de forma "clandestina", inundando os mercados de petróleo pela porta de trás.

Aparentemente, não é isso que está a acontecer, contando a OPEP+Rússia com outra situação adversa, embora ainda sem relevo, mas que pode vir a ameaçar os objectivos em breve: a reabertura das milhares de empresas do "fracking", ou do petróleo de xisto, nos EUA, que consiste na explosão deste tipo de rocha a grande profundidade, para extrair o gás e o petróleo.

Estas encerraram a partir de 2014 devido aos altos preços de produção, entre 60 e 70 USD por barril, em contraste com os baixos preços do barril, especialmente no WTI (Texas), mas podem voltar à actividade agora que os preços já estão na casa dos 60 USD.

Alias, a descida de cerca de 2,5 USD no barril de Brent nos últimos dias tem como uma das causas o risco do regresso destas milhares de empresas em força à produção, o que, a acontecer, catapultaria os preços de novo para o limiar do pânico no seio da OPEP, o que seria uma terrível notícia para Angola, que, apesar de alguns esforços, está ainda longe de conseguir libertar a sua economia da dependência das exportações de crude.

Por exemplo, o gigante norte-americano Morgan Stanley, admite hoje que esse cenário é mais que real, que é uma consequência natural dos cortes da OPEP, numa questão de tempo e não "se" vai ou não acontecer.

Mas outros organismos que analisam ao minuto a questão dos mercados dizem também que os perfuradores do xisto nos EUA sabem que não podem exagerar, porque aquilo que os matou em 2014 é aquilo que os pode matar de novo se o seu regresso à produção tiver o mesmo impacto e resultado que teve antes, uma baixa sólida no preço do barril, que conduzirá inevitavelmente a custos de exploração insuportáveis e a sua condenação à falência.

Uma nova falência nestas empresas, já de si atafulhadas em dívidas, na sua generalidade, seria mesmo um perigo para a economia norte-americana, porque os bancos credores estariam em risco de não ter como recuperar esse dinheiro, podendo despoletar uma vaga de pânico com consequências imprevisíveis.