Com sucessivos aumentos dos preços nos mercados internacionais, correspondendo a um aumento da procura em todo o mundo, especialmente de "pedras" de qualidade, área onde as minas nacionais têm dado cartas, a De Beers resolveu abrir caminho para se reinstalar em Angola e foi para isso que o seu "chefe" global, Bruce Cleaver este ontem reunido com o Presidente da República.

Isso mesmo transpareceu da reunião entre João Lourenço e o presidente da multinacional diamantífera sul-africana, Bruce Cleaver, que ontem teve lugar na Cidade Alta, onde foi analisada a De Beers voltar à actividade em pleno em Angola, aproveitando o bom momento do mercado mundial e das "pedras" angolanas, que, por exemplo, em 2016, baterem o recorde mundial de preço por quilate, 2983 dólares, nos diamantes produzidos no Lulo, na Lunda Norte.

Esse bom momento foi já sublinhado pelo presidente do Conselho de Administração da Endiama, Ganga Júnior, que na semana passada, em Luanda, num encontro de avaliação das empresas do sector, afirmou aos jornalistas que os diamantes angolanos estão a atravessar "um bom momento" e com melhoria nos números relativos à produção anual, que ronda os 9 milhões de quilates.

"Estamos neste momento (referindo-se ao segundo trimestre deste ano) com cerca de três milhões de quilates. Estamos a fazer o balanço de cada empresa individualmente e as coisas estão a correr", disse, sublinhando que as perspectivas são ainda melhores, sendo actualmente o desafio o aumento da produção, aproveitando o bom momento do mercado internacional do diamante.

Esse "bom momento" parece ser também o resultado da análise da De Beers, cuja dimensão global - controla quase 50 por cento da produção mundial - lhe permite ser um dos pilares do controlo do mercado mundial dos diamantes, que lidera destacada.

Por isso, dificilmente a De Beers ficaria por muito mais tempo afastada deste potencial, tendo em conta que Angola é um dos grandes produtores mundiais, tendo no território o 4º maior kimberlito do mundo, a Catoca, estando em preparação a abertura, pelo outro gigante mundial do sector, os russos da Alrosa, do Luaxe, para 2019, na Lunda-Sul, considerado o maior kimberlito do mundo e também pela qualidade das suas gemas, bastando lembrar que as "pedras" extraídas do Lulo, pela australiana Lucapa, na Lunda Norte, têm batido sucessivos recordes mundiais em preço por quilate.

Depois do encontro com o Presidente angolano, o administrador da De Beers, elogiou as políticas recentemente introduzidas por João Lourenço no sector, como, por exemplo, o fim da venda preferencial de diamantes a alguns clientes, como era o caso da venda especial pela SODIAM à joalharia suíça de Isabel dos Santos, De Grisogono, mas sublinhou que vai ser igualmente importante verificar os regulamentos que vão dar corpo à nova lei emanada da Presidência da República através de um DCreto-Lei assinado por João Lourenço.

Face a tudo isto, Cleaver, admitindo de forma clara que a De Beers está de olho no regresso em força a Angola, notou que, para isso possa acontecer, tem ainda de analisar a nova legislação, porque, recorde-se, foram questões legais que levaram a um recuo na intenção de investir de novo em Angola há cerca de quatro anos, por limitações de acesso a novas concessões.

A De Beers tem hoje uma presença mínima em Angola, tendo reduzido quase em 90 por cento o número de funcionários no país, que chegou a ser de cerca de 300, mas, devido à sua robustez e dimensão, em escassos meses, como já aconteceu noutras latitudes, pode voltar à forma anterior.