Uma fonte da comissão de trabalhadores da FILDA, que falou sob anonimato, disse ao Novo Jornal Online que as negociações com a direcção decorrem de forma pacífica, mas que os funcionários discordam da proposta apresentada pela mesma, que visa pagar uma pequena parte da dívida.

"Eles querem pagar apenas três salários, de forma faseada, ou seja, três ainda este ano, mais três em Março de 2018, e assim por diante, mas nós estamos há quase dois anos sem receber nada e dessa forma não concordamos", disse.

Alguns funcionários queixam-se de que os filhos foram afastados das escolas por falta de pagamento das propinas, outros de que foram expulsos das casas de renda onde habitavam.

Muitos funcionários disseram ao Novo Jornal Online que estão a ser sustentados pelas esposas, e muitas mulheres começaram como vendedeiras na zunga (venda ambulante) para poderem sustentar a família, como é o caso de dona Luísa funcionaria há 22 anos na FILDA.

"Vendo na zunga para poder levar jantar para as crianças em casa, se não fazer isso então não tenho como comer", lamentou.

Abílio Kissonde, de 66 anos, trabalhador há 33, ainda não reformado, disse que tem vivido os piores momentos da sua vida por falta de salário.

"Eu sempre dependi de mim, mas agora vivo com favores dos familiares que às vezes dão outras vezes não, mas mesmo assim tenho mantido a presença aqui, apesar dos quase dois anos sem salário".

Apesar de não terem salários há quase dois anos, muitos dos funcionários ainda comparecem diariamente nas instalações a fim de marcarem presença.

"O que ainda existe aqui ainda é graças a nós, que impedimos os oportunistas de saquearem as coisas. Sempre que vemos alguém a tirar algo daqui, chamamos de imediato a polícia", diz Abílio Kissonde.

A direcção, liderada por Matos Cardoso, que já não vai ao recinto há dois anos, não deu qualquer garantia aos funcionários de quando serão pagas as dívidas dos 19 meses, mas os trabalhadores estão esperançados numa negociação: "Vamos aguardar", declaram.

O recinto da Feira Internacional de Luanda, que há mais de 30 anos acolhia exposições internacionais na maior bolsa de negócios de Angola, encontra-se em estado de abandono sob o olhar silencioso das autoridades.

Pavilhões, geradores e demais compartimentos estão a ser vandalizados, no local há águas paradas, capins, carros avariados, portas e janelas partidas que completam o cenário das instalações da FILDA.

Quem no passado visitou o local deparava-se com a estátua do pescador, que no seu barco tirava o peixe do anzol, e era uma referência da FILDA. Hoje a estátua encontra-se derrubada e danificada.

O Novo Jornal Online contactou a direcção da FIL para os devidos esclarecimentos mas não obteve resposta.