A privatização de mais de 70 empresas públicas, anunciada pelo Executivo liderado por João Lourenço, mereceu uma extensa análise da EIU.

Segundo os especialistas da unidade de análise económica da revista britânica 'The Economist', "é importante que quaisquer vendas sejam bem geridas, entregando o melhor valor, e que as transferências sejam transparentes para evitar enriquecimentos ilícitos de uma elite bem relacionada politicamente".

Alertando para a "crescente preocupação" sobre as ligações entre os destinatários das vendas das empresas e o Presidente da República, os analistas contrapõem com os benefícios de o Estado se libertar de uma série de companhias públicas.

"Vender empresas ou activos nacionais vai ajudar a obter o tão necessário financiamento para o Governo, cortar os custos dos salários e reduzir as vulnerabilidades", assinala a EIU, acrescentando que as privatizações devem também "ajudar o mercado, aumentando a concorrência e melhorando os padrões dos serviços".

Em contrapartida, avisam os especialistas, esse é um processo que "coloca um risco de aumento da instabilidade laboral, se as reestruturações afectarem empregos e benefícios".

"Gerir as expectativas dos empregados das empresas públicas durante o processo de privatização será fundamental", reforçam os analistas, antecipando "protestos laborais", caso os compradores não garantam os direitos adquiridos pelos trabalhadores.

O primeiro teste poderá surgir com a recém-vendida Empresa Nacional de Pontes de Angola, cujos novos proprietários prometeram regularizar os quase cinco anos de salários em atraso dos funcionários.

Se a promessa não for cumprida, "pode haver protestos laborais que se podem estender a outras empresas públicas em condições semelhantes", antevêem os especialistas.

Segundo a EIU, a instabilidade laboral pode "ser um obstáculo a outros potenciais compradores" e pode ter um efeito mais alargado devido à crise económica que Angola atravessa.

"Com o preço do petróleo ainda relativamente baixo, e com uma montanha de dívida e ainda a crescer, o Governo tem menos dinheiro para gastar na melhoria das condições de vida para os cidadãos mais pobres, e falhar o cumprimento das exigências da classe média emergente pode levar à instabilidade social junto dos cidadãos mais pobres, que suportaram o aumento da inflação, do desemprego e a austeridade, tendo, por isso, pouco a perder", conclui a unidade de análise da Economist.