O presidente do Conselho de Administração (PCA) da Lactiangol, José César, admitiu ao Novo Jornal Online que os actuais 200 mil litros semanais de leite produzidos pela empresa poderão no curto prazo ser reduzidos, "para já", para os 100 mil.

Isto, porque, adiantou o PCA da Lactiangol, "a produção nacional de matéria-prima está muito longe de poder corresponder às necessidades" da empresa.

Face a esta situação, a importação é essencial para suprimir o défice de matéria-prima e sem acesso a divisas, devido à crise que afecta a generalidade da indústria nacional, "está a ser bastante difícil manter a produção normal" que é à volta dos 200 mil litros de leite.

José César lembrou ao Novo Jornal Online que se na área dos iogurtes e outros derivados do leite Angola tem outras unidades industriais a produzir, no leite "isso não é assim", o que significa que toda a produção encurtada na Lactiangol "tem de ser substituída por importação".

O PCA da Lactiangol referiu ainda o contra-senso existente neste cenário, porque as divisas que não existem para a importação de matéria-prima, principalmente, mas também peças sobressalentes e mesmo mão-de-obra essencial, existe depois para proceder à importação de leite.

"É evidente que esta realidade não é coerente com o discurso oficial que é muito dirigido para a aposta na produção nacional", notou José César, deixando perceber que, neste caso, da Lactiangol, está a acontecer o contrário, pressionando uma empresa nacional de qualidade inigualável no contexto regional através do constrangimento no acesso a divisas.

O responsável admitiu que esta é uma questão que resulta da política definida pelo Banco Nacional de Angola mas lembrou que o Governo, através da ministra da Indústria, Barnarda Martins, está devidamente informado sobre o que está a suceder.

O problema na Lactiangol começou a impor-se já em 2015 - quando a quebra abrupta do preço do petróleo nos mercados internacionais começou a ter impacto directo e pesado no acesso a divisas em Angola -, mas, recorda José César, "foi a partir de Maio deste ano que as coisas ficaram muito difíceis de lidar".

A Lactiangol foi criada em 1994, resultando da privatização da antiga Central Leiteira de Luanda, e desde então lidera de forma destacada a produção de leite e derivados no país.

A empresa foi, face a este histórico e o papel decisivo que tem para diminuir as importações neste sector, alvo de um investimento volumoso recentemente, de mais de 26 milhões de dólares, numa nova linha de produção, inaugurada em Julho último, financiado em cerca de 60 por cento pelo Banco de Desenvolvimento de Angola e os restantes 40 pela empresa.

Curiosamente, este investimento, aquando da sua inauguração, como noticiado na altura, foi apontado pela ministra da Indústria, Bernarda Martins, como uma "abordagem estratégia" no contexto da dificuldade de acesso a divisas, sublinhando a sua importância no esforço que o país está a fazer no sentido de substituir as importações por produção nacional.

A Lactiangol tem hoje cerca de 250 trabalhadores e, segundo José César, está hoje equipada com tecnologia para processamento de leite do que existe de mais avançado.