De acordo com este estudo, do qual se conhece apenas uma síntese divulgada pelas agências a partir de uma síntese a que o alemão Der Spiegel teve acesso, esta dívida que a China construiu com um conjunto de países e regiões, que inclui África, mas também países como o Sri Lanka, as Maldivas ou Cuba, é de tal grandeza que só por si gera um abrandamento impossível de ignorar da economia global.

Essa dívida é, segundo as contas feitas pelos investigadores Carmen Reinhart, de Harvard, e Christoph Trebesch e Sebastian Horn, do Instituto de Economia de Kiel, suficientemente grande para que em pouco tempo esteja a gerar uma nova e forte crise de dívidas soberanas por incapacidade dos países em desenvolvimento que caíram nesta "malha" de cumprirem com o acordado com Pequim.

O estudo destapa ainda um dos mitos mantidos e alimentados pela China de que a sua ajuda aos países menos desenvolvidos é altruísta, porque os juros que cobra para fazer estes empréstimos "ocultos" chegam a dar a Pequim a cedência por parte de Estados soberanos das suas fontes de rendimento mais importantes ou mesmo das suas produções agrícolas vitais em caso de incapacidade de pagamento.

Ainda de acordo com o documento, países como os Estados Unidos e a Austrália têm estado a procurar denunciar algumas das situações mais graves referentes à "armadilha" dos empréstimos chineses sobre países como Cuba, Sri Lanka, Maldivas, Bangladesh, entre outros.

Alguns jornais ocidentais, como o britânico The Sun, já utilizam mesmo o termo "neocolonialismo" para se referirem a esta situação gerada pelos empréstimos chineses avultados, embora as autoridades de Pequim insistam que se trata apenas de uma ajuda do gigante asiático com benefícios mútuos, sem que por detrás esteja qualquer tipo de ingerência política ou exploração da fragilidade económica.

Recorde-se que uma das razões fundamentais apontadas por diversos organismos ocidentais para que a China tenha merecido, ao longo das últimas décadas, a preferência da maioria dos países em desenvolvimento para este tipo de apoio, é que Pequim não faz exigências em matéria de Direitos Humanos ou democráticos quando concede empréstimos, quando os países ocidentais e os seus organismos têm sempre uma lista de exigências ao lado da tabela com os valores a emprestar.

E, a par dos valores oficiais, a investigadora de Harvard, Carmen Reinhart, tem vindo a chamar a atenção para o facto de, à medida que tem crescido o volume dos empréstimos chineses, tem igualmente crescido o montante das dívidas escondidas e mantidas em segredo devido às agressivas cláusulas contratuais e também para enganar as estatísticas do Fundo Monetário Internacional e Banco Mundial, que apresentam dados oficiais referentes a esses países com um volume de dívidas muito inferior à realidade.

A crise económica poderá surgir a partir do momento em que alguns destes países anuncie que deixou de ter capacidade para manter os seus compromissos de pagamentos das suas dívidas, gerando um problema de desconfiança sistémica, como outros que já aconteceram no passado.