Em Luanda e um pouco por todas as províncias, a Kixikila predomina enquanto prática financeira alternativa às operações bancárias, tornando-se parte do dia-a-dia de muitos angolanos, que mais facilmente desconfiam da banca tradicional do que desta prática antiga, tipicamente africana.

O Novo Jornal Online falou com alguns praticantes deste modelo de financiamento para concluir que o jogo da "Kixikila" é frequente entre colegas de trabalho, grupos organizados, associações, bem como nos mercados formal e informal.

Conhecemos o caso de Tino Leite, segurança na escola nº 742 no Cazenga, que diz recorrer a esta solução porque o seu ordenado mensal não cobre as despesas pessoais e familiares: "Somos na totalidade 10 seguranças, recebemos todos no mesmo banco. Então, nove pessoas entregam 25 mil kz no fim de cada mês para que um colega possa levar para casa 250 mil kz".

Este é um negócio que não requer formalidades nem obedece a critérios particulares. A periodicidade pode ser mensal, quinzenal, semanal, ou até mesmo diária, dependendo da vontade dos aderentes.

Como Tino, André Eduardo de 44 anos, inspector da Polícia Nacional, é um utilizador desta modalidade e tem contribuído mensalmente com 100 mil kz para um grupo com 10 pessoas.

"Isto ajuda muito na gestão da minha vida e na dos meus colegas, pois consegui construir a minha casa e comprar um carro. É necessário ter paciência na hora de cumprir com a obrigação de dar, mas compensa".

Também Braulio Duas Horas afirma ter construído a sua casa e comprado um carro graças a esta prática muito conhecida entre os candongueiros. Outro exemplo disso é Braulio, hoje líder da "Staff dos Príncipes", um grupo de taxistas composto por 30 membros, em que cada associado entrega, todos os sábados, 5 000 kz, somando 150 mil kz, entregues a um dos membros que recebe esse valor como um complemento ao salário semanal.

"Para nós, isto é o mesmo que trabalhar numa empresa. Não há confusões, todos recebem na sua vez, diz Braulio, que garante que o grupo já faz isto há 10 anos.

Marta Manuel é vendedora de roupa no mercado do Asa Branca, e também praticante fervorosa deste jogo. Para Marta, a "Kixikila" ajuda muito, "ninguém perde no final do dia, a mãe da "kixikila" passa a recolher os 500 kz das 100 senhoras que jogam".

"Ontem, recebi 50 000 Kz, porque foi meu o dia. Assim, hoje tenho de dar 500 kz, à "mãe" (a pessoa escolhida para liderar a operação, que cobra, recolhe, e entrega o somatório dos valores) para que ela possa entregar mais 50 000 kz a outra pessoa", contou.

Para o economista Evaristo da Luz, em Angola, onde as oportunidades de trabalho continuam a ser poucas e os ordenados são maioritariamente baixos, esta prática do jogo da "kixikila" pode ser entendida como um microfinanciamento directo.

De acordo com o economista, também pode ser um instrumento financeiro que acarreta altos riscos frequentes de retorno.

O especialista é de opinião que poupar dinheiro fora da rede bancária é um alto grau de incerteza, na medida em que são criadas através de contratos informais, conclui.

Para os que recorrem a esta forma de financiamento, mesmo que um dos elementos do grupo venha a ter um grave problema, isso não é levado em consideração pelos restantes. E o jogo nunca pára.