Joaquim Avelino, técnico agrário, da Ombadja, acusa a Gesterra, empresa gestora de projectos, de estar de braços cruzados face ao que está a acontecer no perímetro irrigado de Manquete, no Cunene.

"O meu chefe já escreveu para a Gesterra, para vermos qual é o destino destas 252 toneladas de arroz que se estão a estragar aqui", disse o técnico em declarações à Rádio Nacional de Angola.

Segundo Joaquim Avelino, com a máquina de descascar em funcionamento, as 250 toneladas de arroz seriam descascadas em dois dias.

"Só estamos à espera da autorização da Gesterra para iniciarmos o trabalho de descasque", revelou.

Já Carlos Agostinho Pai Paim, director geral da empresa Gesterra, disse à TV Zimbo que a sua empresa não é responsável por este projecto há dois anos.

"Durante muitos anos a Gesterra foi gestora destes empreendimentos, por indicação do Executivo, e, em 2016, a Gesterra deixou de sê-lo por orientação presidencial", declarou.

Carlos Agostinho Pai Paim disse que é responsabilidade do Fundo Soberano de Angola (FSA) a prestação de esclarecimento sobre o assunto.

"Neste caso, a responsabilidade é da empresa que está a gerir este projecto, que é uma empresa contratada sob gestão do Fundo Soberano de Desenvolvimento de Angola, porque foi o decreto presidencial aprovado naquela altura que transferiu a gestão das fazendas para esta empresa", disse, acrescentando: "Espantou-nos como é que, nesta fase, o arroz ainda se mantém nos silos sem ser processado".

De acordo com Carlos Agostinho Pai Paim, "indirectamente, a culpa é do FSA porque contratou uma empresa para fazer gestão da unidade e se calhar essa empresa não teve competência ou interesse no processo de comercialização deste produto".

Ontem, o ministro da Agricultura e Florestas, Marcos Nhunga, reuniu de emergência com o conselho de administração do Fundo Soberano de Angola, para abordar o assunto.

Marcos Nhunga disse, no final da reunião, que este assunto já é do domínio do Presidente da República, João Lourenço.

De salientar que o governador do Banco Nacional de Angola (BNA), José de Lima Massano, declarou que só nos primeiros três meses do ano o país gastou 560 milhões de dólares para comprar comida.

O governante falou no encerramento do VIII Fórum Banca, organizado na última sexta-feira, 29, pelo jornal Expansão, e defendeu que o país deve "conquistar maior capacidade de protecção das reservas internacionais e garantir a solvabilidade externa da economia".

José de Lima Massano adiantou que "temos ainda uma procura por divisas elevada para cobertura de importação de bens que o país tem condições de produzir".

Apesar de assinalar que esse volume representa uma queda de 30% em relação ao mesmo período de 2017, o governador do BNA avisou que, a tendência - em que a procura se mantém alta - indica que no final do ano o país não ficará longe da factura paga no ano anterior pela importação de alimentos. Ou seja: 3,3 mil milhões de dólares.