O funcionamento do sistema financeiro nacional está "minado", reconhece Valter Filipe, explicando que as reservas financeiras do petróleo, vendidas através de leilões aos bancos comerciais, tomam um rumo por enquanto insondável.

"O Banco Nacional de Angola recebe dos bancos comerciais o dinheiro em kwanzas. Esta é uma armadilha, já que distorce o sistema, pois, o BNA não consegue controlar a saída de divisas", assumiu o governador, elencando uma série de fragilidades estruturais.

"Angola é uma porta frágil onde entra todo o risco financeiro. O BNA não se posiciona como uma verdadeira autoridade que impõe sanções e responsabilidade aos infractores", reconheceu Valter Filipe, reiterando, uma vez mais, o compromisso de dotar a instituição que dirige de uma verdadeira autoridade monetária e de supervisão.

Para o efeito, o governador do banco central apresentou, na terça-feira, o "Projecto de Adequação do Sistema Financeiro Angolano às Normas Prudenciais e Boas Práticas Internacionais".

Ao mesmo tempo, a Unidade de Informação Financeira, instrumento para o controlo e o combate de branqueamento de capitais, está a ser reestruturada, numa conjugação de esforços entre o BNA, a Procuradoria-Geral da República, a Polícia Económica e a Administração Geral Tributária.

Com estas iniciativas, o banco central pretende resgatar a credibilidade perdida não apenas a nível externo - sobretudo perante o banco central norte-americano (FED) e o Banco Central Europeu -, mas antes de mais, a nível interno, responsabilizando o sector.

90% das empresas alimentares têm gestão estrangeira

Segundo Valter Filipe, a missão de "arrumar a casa", exige a correcção das vulnerabilidades já sinalizadas.

Além de reconhecer que os bancos comerciais apresentam "problemas de promiscuidade e atropelos à ética", sublinhando que muitos "não passam de simples casas de câmbio", o governador do BNA acrescentou que "alguns têm problemas de activos e solvabilidade financeira".

O quadro de fragilidades, que está a colocar o país "à margem do sistema financeiro mundial", agrava-se, na explicação de Valter Filipe pelo facto de 70% das empresas que operam em Angola serem detidas por imigrantes de origem duvidosa, e 90% das empresas alimentares estarem sob gestão de estrangeiros.

Neste cenário, o governador prometeu implementar, em breve, medidas de consolidação da banca comercial, através de fusões ou mesmo da extinção dos bancos que se tornarem inviáveis.