Os 70 dólares norte-americanos por barril de crude foi, em meados do ano passado, considerado pelo Governo angolano como um valor muito bom para a economia nacional, embora poucos admitissem que tal patamar, a casa dos 70/80 USD por barril, pudesse ser alcançado em tão pouco tempo, porque nessa altura estava na casa do 40 USD.

Os mercados internacionais e especialmente as economias dos países exportadores estiveram quase, quase a abrir as garrafas de champanhe para comemorar esta meta alcançada, mas faltou tempo para as garrafas puderem arrefecer... O valor do barril arrefeceu mais depressa.

Uma das razões apontadas pelos especialistas para que o crude não se tivesse aguentado mais que dois dias na casa dos 70 USD (70,37 USD na segunda-feira) foi uma espécie de corrector automático de natureza psicológica que responde a uma subida quase vertiginosa com um arrefecimento cauteloso no preço do barril para evitar euforias.

Isto, porque só no último mês, o barril de Brent subiu 13 por cento, e o WTI (Texas) teve comportamento semelhante, embora nos mercados asiáticos, os valores atingidos tenham sido de maior envergadura, mas isso é relativamente normal porque é ali que estão a maior parte das refinarias no mundo e ainda porque é também ali que está a maior ascensão da procura da matéria-prima.

Como pano de fundo para estes valores, que não eram vistos desde 2015, depois da quebra abrupta em meados de 2014, onde estava acima dos 100 USD/barril, continua a estar o corte de 1,8 milhões de barris por dia (mbpd) definido em finais de 2016 pela Organização de Países Exportadores de Petróleo (OPEP), a que se aliaram a Rússia e outros 11 países, bem como pontuais crises, como os recentes protestos no Irão, a instabilidade na Líbia e na Nigéria, ou ainda a debilidade geral do Estado na Venezuela, cuja produção se tem ressentido disso mesmo, entre outros.

A isto, cola-se o coerente crescimento económico global e uma crescente procura global pela matéria-prima a ele inerente, uma constante quebra nos "stocks" norte-americanos, ou na China, e uma percepção dos fundos (hedge funds) que o petróleo vale a pena nesta altura como investimento de risco.

Mas é precisamente neste último ponto que os analistas admitem poder começar a romper a solidez dos crescentes preços do barril, porque se estima que os "hedge funds" podem, ou devem, agora começar a retrair-se devido aos excessivos valores das expectativas razoáveis na escalada dos preços, essencialmente pelo declínio dos factores de risco relacionados com a instabilidade, é disso exemplo a crise no Golfo, com o Qatar na mira dos vizinhos EAU ou a Arábia Saudita, entre outros.

No entanto, os grandes investidores, como o Bank of America ou o Mrgan Stanley vieram nas últimas horas admitir que as quebras nas reservas globais estão a desaparecer a um ritmo superior ao esperado e que isso pode levar a um explosão no preço semelhante à que aconteceu em 2007/2008.

Face a isto, os analistas apontam agora para a importância do papel da OPEP+Rússia & Co. manterem a solidez da sua estratégia de cortes, que pode, no curto prazo, a par da demanda global crescente, o mais importante factor a empurrar os preços para cima e manter a continuada quebra nas reservas globais, que estão,,como já referido, a desaparecer, como é o caso dos EUA que perde uma média de 6 milhões de barris por semana.

Para já, estes cortes estão garantidos até finais de 2018, como ficou definido na última actualização da estratégia, e existe a possibilidade de esta poder ser prolongada para além de 2018.

Angola e os preços do crude

Recorde-se que Angola contribui com 78 mil barris/dia nos cortes definidos pela OPEP, mas é um dos países que mais tem lucrado com a opção.

O exemplo mais claro disso mesmo é a folga que os actuais preços permitem nas contas do Estado, tendo em conta que o Orçamento Geral do Estado está construído estimando um preço médio de 50 USD/barril, menos 20 USD que o valor actual de mercado.

O petróleo é responsável por mais de 95 por cento das exportações angolanas, o que demonstra estar ainda muito longe a almejada diversificação da economia nacional.