Fontes do Governo saudita citadas pela Reuters explicaram que os 70 USD por barril é o valor mínimo necessário para o equilíbrio orçamental saudita, o que exige do maior produtor mundial de petróleo reduzir a sua produção para níveis recorde e bastante abaixo da quota acordada, em Novembro do ano passado, no seio da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) e dos seus aliados, liderados pela Rússia, na denominada OPEP+.

Naturalmente que esta posição de força da Arábia Saudita, cuja capacidade de produção - na ordem dos 12 milhões de barris por dia - e reservas gigantescas, as segundas maiores do mundo, com 268 mil milhões de barris confirmados, ficando apenas atrás da Venezuela, que chegam aos 300 mil milhões, permite admitir que, com maior ou menor esforço, o objectivo dos 70USD/barril vai ser conseguido.

E também que isso é uma notícia passível de gerar boas expectativas no Governo angolano que elaborou o seu Orçamento Geral do Estado (OGE) para 2019 com base no barril a ser transaccionado a 68 USD.

Ainda por cima, depois de um final de 2018 desastroso - na perspectiva dos países produtores -, com o barril a chegar aos 49 USD em Londres, cujo Brent local define o valor das exportações nacionais, o Governo angolano viu-se forçado a admitir uma revisão do OGE, sendo ainda agora essa a posição oficial, transmitida pelo ministro das Finanças há cerca de três semanas, apesar de o crude ter voltado a aproximar-se dos 68 USD.

O barril de Brent está hoje, cerca das 09:20 de Luanda, a valer 67,11 USD, um valor muito próximo dos 68 considerados para o OGE angolano, sendo de prever que, com este posicionamento saudita, mesmo que o recurso à forma de fonte próxima da Casa Saudi seja amiúde utilizado para testar os mercados, a verdade é que dificilmente o barril não vá reflectir em alta a decisão de Riade.

Isto, porque se sabe que Riade e Moscovo têm há vários meses um acordo semi-secreto para definir as políticas do sector petrolífero a partir da OPEP+, contando ainda, quando se trata de fazer elevar o valor da matéria-prima, com o apoio vibrante dos restantes membros do "cartel", quase todos muito dependentes das flutuações do preço do barril nos mercados devido às mono-economias petro-dependentes de quase todos eles, sendo Angola um dos melhores exemplos.

Os sauditas estão a largas semanas a dar sinais de que não estão disponíveis para deixar o petróleo balancear negativamente as suas contas nacionais devido à crise que o país atravessa, muito por causa das cedências feitas aos EUA e ao seu Presidente Donald Trump em meados do ano passado no sentido de aumentarem drasticamente a produção para baixar de forma abrasiva os preços do crude.

O erro, quando foi admitido por Riade, já tinha produzido uma tempestade de efeitos nefastos não só na economia saudita mas como na de todos os países da OPEP+, levando os príncipes do petróleo a fazer marcha à ré e voltar a cortar na produção, reunindo para o efeito os seus aliados de urgência.

Com os novos cortes o barril voltou a subir para a casa dos 60 USD mas estabilizou abaixo dos 70, longe, claro está, dos 85 a que estava quando os sauditas não resistiram à pressão de Trump, que usou o polémico caso da morte do jornalista saudita Jamal Khashoggi para pressionar o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, entalado que estava pela CIA como suspeito de estar envolvido no crime ocorrido no consulado de Riade na Turquia, para obter o que pretendia: petróleo barato para enfrentar melhor as eleições intercalares de 2018.

É claro que esta estratégia de cortes é uma faca de dous gumes, porque à medida que aumenta o valor do barril, cresce o apetite dos produtores norte-americanos alternativos do petróleo de xisto - ou fracking -, cujo elevado breakeven da produção é muito alto - acima de 70 USD por barril -, provocando um efeito perverso que é o de estarem a financiar a pior das concorrências: a norte-americana.

Isto, quando se sabe que também a produção tradicional dos EUA está em níveis nunca vistos, próximo dos 12 mbpd, sendo mesmo já o number one dos produtores mundiais, à frente dos sauditas e dos russos, ambos a rondar os 10 mbpd devido à políticas de cortes em que estão envolvidos na OPEP+.

Mas, quando o Governo angolano está a escassas semanas de levar ao Parlamento um novo e revisto OGE para aprovação, com o barril abaixo dos 68 e às contas reformatadas para esses novos valores, alguns dados permitem observar indícios que, se calhar, essa revisão pode estar a ser feita de forma intempestiva.

Isto, porque os sauditas, desta vez, não podem dar o dito por não dito e vão mesmo ter de forçar um elevar substancial do preço do barril.

De acordo com dados recentes divulgados pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), a Arábia Saudita precisa do barril a valer cerca de 85 dólares para conseguirem obter um orçamento equilibrado já este ano de 2019.

Todavia, os analistas mais experimentados estão a lembrar que os valores demasiado altos - acima de 75 no Brent já são considerados demasiado altos - podem levar a um aprofundar das crises nas maiores economias, como achinesa, já severamente afectada pela guerra comercial com os EUA e a crescer a valores abaixo da média dos últimos anos, o que pode provocar um efeito contrário ao pretendido, porque se sabe que menos economia, menos procura e menos procura, menos valor pago por barril.

E há ainda a questão das ameaças de Donald Trump aos países da OPEP com perseguições judiciais nos EUA a empresas desses Estados, tendo já prometido que se os preços não forem mantidos abaixo de 65 USD por barril, fará aprovar uma lei contra os interesses económicos e financeiros dos membros do "cartel" em solo norte-americano.