Com os cortes definidos em Novembro pela OPEP+, designação que junta os membros da OPEP e os 11 países que desde 2016 se juntaram ao "cartel" para procurar o caminho mais curto para equilibrar os mercados, e depois, com a Arábia Saudita a anunciar disponibilidade para ir ainda mais além nesses mesmos cortes na produção, os mercados começam a reagir e, por exemplo, o Bank of America, num relatório recente, aponta como natural que, ao longo deste ano, a oferta seja ligeiramente inferior à procura.

A OPEP+ tinha definido como meta o corte de 1,3 milhões de barris por dia (mbpd) mas a Arábia Saudita, que, tal como outros países produtores, incluindo Angola, vive uma profunda crise económica, surpreendeu os mercados anunciando que poderia juntar mais 500 mil barris extra a esta diminuição na produção.

As principais casas financeiras começam, face a este cenário, a apontar, de novo, para uma escalada no preço do barril, com a meta dos 70 USD por barril cada vez menos contestada como forte possibilidade. Istp, depois de o barril ter tombado dos 85 USD alcançados em Outubro do ano passado para menos de 50 no arranque deste ano.

Recorde-se que os 70 USD é o valor mínimo para corresponder às expectativas do Governo angolano, que, como se sabe, elaborou o seu Orçamento Geral do Estado (OGE - 2019) com base nos 68 USD como preço de referência.

Actualmente, esse valor está 8 USD abaixo do estimado e, por causa disso, o Governo já admitiu que se não ocorrer uma alteração de monta nestes valores, será obrigado a enveredar por uma revisão orçamental.

Para sustentar essa subida expectada, os analistas sublinham três factores essências: os cortes significativos na produção da OPEP+, as expectativas de uma atenuação na guerra comercial entre os EUA e a China, que levou a que as duas superpotências económicos se infligissem golpes sérios através de taxas aplicadas às exportações de um e de outro no valor de mais de 250 mil milhões de dólares e as fortes quebras esperadas na produção da Venezuela, devido à crise política e social, e do Irão, afectada pelas sanções norte-americanas.

O consumo de petróleo global, na ordem dos 92 mbpd, oscila face a crises momentâneas e por causa de danos estruturais na economia mundial, que, como fez notar o Fundo Monetário Internacional , poderá este ano ressentir-se de situações como as guerras comerciais, baixando com relativo significado, o seu esperado crescimento.

Exemplo disso são os números apresentados pela China que, segundo dados oficiais, viu as suas exportações caírem 4,4 por cento no final de 2018, e as importações, com um ainda mais vigoroso decréscimo, na ordem dos 7,5 por cento, sendo este um dos factores que tornam a economia mundial permeável a um decréscimo acentuado no seu crescimento esperado anteriormente, situado nos 3,5%.

Crises incomparáveis

Todavia, a crise que em meados de 2014 soterrou as economias dos países produtores de petróleo, com uma quebra no valor do barril medida na centena de dólares - passou de mais de 120 USD para menos de 30 em Fevereiro de 2016 - não tem comparação com a actual, sendo que nessa altura, a produção global estava mais de 1,5 mbpd acima da procura e, actualmente, essa diferença não supera os 200 mbpd.

Alias, diferença essa que resultou de uma opção estratégica dos sauditas que, pressionados pelo Presidente dos EUA, Donald Trump, aceitaram, em Junho de 2018, aumentar a sua produção, contrariando aquilo a que se tinham comprometido com os seus parceiros da OPEP, em mais de 1 mbpd, sendo esse o principal motivo para que a produção tenha claramente ultrapassado a procura.

Esperançado, o ministro saudita da Energia, Khalid Al-Falih, sublinhou recentemente que "os mercados têm estado a subestimar os efeitos dos cortes na produção que definimos", adiantando que "essa percepção errada dos mercados tem gerado opções erradas das casas financeiras".

"Estou absolutamente convencido de que os mercados petrolíferos vão, rapidamente, regressar ao equilíbrio", disse al-Falih, numa declaração que, em tudo, se assemelha ao que a OPEP e os seus membros têm dito, e que, se for observado esse cenário, permitirá manter, com solidez reforçada, o barril na casa dos 70 USD, em Londres, cujo Brent define o valor das exportações angolanas.