O relatório da AIE indica que na semana até 12 de Outubro, os inventários nos Estados Unidos da América subiram mais de 6,5 milhões de barris, consolidando uma subida que tem sido permanente desde meados de Setembro.

Estes números dão a indicação aos mercados de que está a ocorrer uma normalização entre a oferta e a procura, depois de um período de quase dois anos em que os cortes decididos pela Organização de Países Exportadores de Petróleo (OPEP) e a Rússia, à frente de um grupo de 11 produtores descartelizados, em finais de 2016 e iniciados a 01 de Janeiro de 2017, foram engordando os preços ao diluir o excesso de oferta que então se registava.

No entanto, depois de o barril de Brent ter chegado, em meados deste ano, à beira dos 80 USD e o WTI (Nova Iorque) ter alcançado a margem dos 70 USD, o Presidente dos EUA, Donald Trump, por causa do período eleitoral intercalar que se avizinha, pediu, em tom de exigência, à Arábia Saudita, o grande aliado de Washington no Médio Oriente e o maior produtor mundial, bem como o de facto líder da OPEP, para pressionar no sentido de um aumento da produção para moderar a escalada do preço do barril levando a uma curva descendente do valor da matéria-prima nos mercados.

Aparentemente, depois de Riade e Moscovo terem admitido um aumento de um milhão de barris por dia (mbpd), menos 800 mil que o corte em 2017 de 1,8 mbpd, teve início um reequilíbrio do preço do crude, apesar de o caos político e social na Venezuela, das tensões com o Irão por causa do acordo nuclear e dos problemas estruturais em países como a Nigéria, a Líbia ou mesmo Angola, onde se registam declínios na produção por causa do desinvestimento nas estruturas produtivas verificados a partir de 2014, altura em que se registou a hecatombe no valor do petróleo.

E é neste caldo global que o barril de petróleo, especialmente o Brent, onde é fixado o valor das exportações angolanas, começou esta semana a deslizar do seu máximo anual, de 85 dólares para os 78,8 registados ao início da tarde de hoje.

A notícia é má para Angola, que está à beira de apresentar o seu Orçamento Geral do Estado para 2019, e para o qual o petróleo contribui de forma preponderante.

A par da desvalorização da principal exportação angolana, que vale mais de 90 por cento destas, Angola debate-se ainda com uma acentuada diminuição da produção nacional, que deverá, ainda segundo a AIE, resvalar dos 1,6 mbpd produzidos em média nos últimos anos para uns escassos 1,29 mbpd estimados para 2023, com descidas continuadas até essa data.

No entanto, de acordo com os especialistas que estão a ser ouvidos pelas agências, esta quebra no viço do ouro negro poderá ser passageira, visto que, defendem, em síntese, dificilmente as quebras estimadas na Venezuela e no Irão poderão ser suprimidas porque os grandes produtores, como a Arábia Saudita, estão neste momento no limite da sua capacidade de extracção.

A ajudar a uma inversão deste quadro está o bom desempenho da economia global, como sublinha o Fundo Monetário Internacional, que assim deverá continuar se não for afectada de forma severa por um eventual recrudescer da guerra comercial entre a China e os EUA, devido às taxas alfandegárias decretadas pelo Presidente Trump, num total de 250 mil milhões USD, às quais Pequim respondeu com um conjunto de contramedidas de valor superior a 60 mil milhões.

A produção global de petróleo, numa média dos últimos anos, ronda os 92 milhões de barris por dia, sendo que deste bolo, à volta de 32 mbpd são de origem na OPEP e a diferença entre a produção e a procura, oscilou entre um excesso em 2016 que rondou os 300 mil barris por dia e um défice ligeiro já este ano, que foi responsável pelo salto no valor do barril entre os 50 e os 60 USD em finais de 2017 para os 85 dólares registados no início deste mês.