Do topo da lista dos três maiores produtores globais de crude, fica de fora desta junção de esforços os Estados Unidos da América, cujo potencial produtivo se situa entre o saudita e o russo, sendo o único factor de contrabalanço para o mercado global.

O anúncio do acordo entre Riade e Moscovo foi divulgado pelo príncipe saudita Mohammed bin Salman, em entrevista à Reuters, sublinhando que se trata de um prolongamento do actual acordo que os dois países mantêm no âmbito da estratégia de cortes na produção de 1,8 milhões de barris por dia (mbpd) como ferramenta para controlar os preços.

A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), claramente liderada pela Arábia Saudita, e a Rússia, à frente de um conjunto de países não-membros do "cartel", mantêm desde 01 de Janeiro um plano de cortes que deve vigorar até ao final do ano corrente e que, como um dos principais objectivos, tem fazer subir o preço do barril que atingiu preços irrisórios depois da crise de 2014 que atirou a medida internacional para menos de 30 USD no início de 2016.

As consequências deste acordo são de variância alta, atém porque o barril está actualmente nos 70 dólares, valor que a própria OPEP considera ser o ideal, até porque está no limite daquilo que é o valor a partir do qual as produções alternativas, como o petróleo de xisto, ou fracking, norte-americano, mas também chinês, passa o breakeven e pode contribuir fortemente para inundar o mercado de excedentes, que o "cartel" quer evitar a todo o custo.

Para já, o barril aguenta-se próximo dos 70 USD, mas, contrariamente ao previsto, as reservas dos EUA, segundo o Instituto Americano do Petróleo, aumentaram 5,3 milhões de barris, o que teve claramente o contributo do inimigo número 1 da OPEP: o fracking.

Sobre o acordo Riade-Moscovo, o líder saudita sublinhou à Reuters tratar-se de um acordo que já tem as grandes linhas definidas, faltando agora ir aos detalhes.

Entretanto, os analistas, olhando para este anúncio, admitem já que se se tratar de um arranjo para o longo termo, pode-se estar perante um "realinhamento no mundo do petróleo", que permitirá aos países cartelizados+Rússia, com Angola como produtor grandemente interessado, controlar o fluxo de crude para os mercados garantindo o seu melhor interesse.

Ainda segundo a análise da Reuters, a história já demonstrou que sem acordos de longa duração, o que os produtores conseguem é apenas uma espécie de montanha-russa nos gráficos dos mercados, garantindo o contrário um controlo mais restrito desses mesmos preços.

As contas angolanas

Face a este cenário de alta no sector petrolífero, Angola tem visto o rendimento obtido das exportações de crude subir e em Janeiro chegou quase aos mil milhões de dólares em receitas fiscais, o melhor registo desde Outubro de 2014, ano em que teve início a crise que o país atravessa e que se faz sentir com vigor, por exemplo, na dificuldade de obtenção de divisas e moeda estrangeiro.

Não é fácil para quem não domina a volatilidade dos mercados perceber até que ponto uma subida de alguns dólares no barril transaccionado nos mercados internacionais pode afectar a economia angolana, mas há uma soma simples de se fazer que deixa essa importância em destaque.

O barril de petróleo está hoje a passar os 70 dólares e se se tiver em conta que as exportações diárias de Angola rondam os 1,6 mbpd, e que o Orçamento Geral do Estado (OGE) para 2018 foi elaborado com o barril a 50 USD, isso implica uma "almofada" circunstancial de 20 dólares norte-americanos por cada barril que o Executivo pode usar para acorrer a emergências.

Um dos exemplos disso mesmo foi dado recentemente, aquando da discussão do OGE na especialidade onde estava em causa aumentar as verbas disponíveis para a Educação e a Saúde e a CASA-CE avançou com a proposta de ir buscar essas verbas à diferença entre o valor de barril orçamentado e o valor a que este é vendido.

Na diferença entre os 50 orçamentados e os 70, existem cerca de 32 milhões de dólares por dia fora do OGE, embora aqui tenham de ser subtraídas as mais-valias dos investidores, normalmente as petrolíferas multinacionais que exploram blocos no off shore angolano, concessionadas pela estatal Sonangol.

E é esta diferença que constitui uma almofada que serve, normalmente, para aparar as quedas provocadas pelas crises e resolver urgências.

É neste palco de grande volatilidade, como se viu nestes últimos anos, onde, de um pico máximo histórico de 147 USD por barril em Julho de 2008, para os 29 dólares no início de 2016, os países exportadores e especialmente dependentes da matéria-prima, como é o caso de Angola, não conseguem manter as suas economias consolidadas, excepto se aproveitam - o que claramente não sucedeu em Angola, apesar das demonstrações de intenções nesse sentido - os momentos de bonança para diversificar as suas economias.

Face a essa, ainda, por concluir diversificação, com Angola a apontar na direcção da agricultura e, entre outros, por exemplo, do turismo como motores da economia, o que se passa nos palcos internacionais revela-se de extrema importância, como é o caso do esforço da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), em conluio com a Rússia e outros 11 produtores não-membros do "cartel", para manter os preços em alta através de uma estratégia de cortes na produção de 1,8 mbpd iniciada a 01 de Janeiro do ano passado.

Para este esforço, Angola, membro da OPEP, contribui com um corte de 78 mil bpd, sendo que é um dos países que mais rapidamente ultrapassa a diminuição dos cortes com o valor acrescentado ao barril por essa via, o que se torna claro quando se tem em consideração que o barril vale hoje 70 USD e estava a menos de 30 em 2016.

O que está ao virar da esquina depois de 2018?

Quando os cortes na produção da OPEP+Rússia terminarem, em finais deste ano, se isso se confirmar, o que, por exemplo, o ministro dos Petróleos saudita Khalid al-Falih, estima que possa acontecer, visto que o excesso de produção face à procura nos últimos anos terminou e as reservas que essa realidade permitiu acumular estão a diminuir aos milhões de barris por semana nos EUA e na China, entre outras grandes economias globais, é que os países possam retomar, pelo menos, uma parte dessa produção perdida.

A OPEP, sinalizou ainda Khalid al-Falih, está a proceder a um aprofundado estudo sobre o que pode ser o balanço dos cortes e o que consistentemente será a realidade dos mercados para definir o próximo passo, sendo que isso possa corresponder a um relaxamento dos cortes.

O ano de 2019 é apontado pelo responsável saudita como indicativo para que essa diminuição nas restrições da produção dos membros da OPEP e dos aliados liderados pela Rússia venha a ter lugar de forma paulatina, e, agora, como um novo instrumento de controlo que é o acordo Riade-Moscovo.

Ora, se isso acontecer como prevê o responsável saudita, que, recorde-se, gere a política energética do maior produtor global, deixando para trás por larga margem e potencial, os EUA (2º) e Rússia (3º), Angola poderá aumentar ainda mais as suas receitas, regrando uma maior folga nas suas contas.

Mas, como o Novo Jornal Online lembrava há dias, o país poderá debater-se muito em breve com o problema da deterioração do seu sector produtivo, abandono de blocos e plataformas em "stand by" porque as multinacionais desinvestiram em Angola face aos baixos preços do barril e a retoma da normalidade poderá ser demorada e muito cara, podendo isso desincentivar os investidores devido aos elevados custos de produção nacionais.