Com o somar continuado de sinais de que Donald Trump, o Presidente que mais apostou no sector petrolífero norte-americano, especialmente na sua indústria alternativa do xisto, ou fracking, e, por isso, o melhor amigo dos hidrocarbonetos, iria perder a reeleição, os mercados petrolíferos mostraram receio e o barril passou em baixa a casa dos 40 USD em Londres, onde o Brent local determina o valor médio das exportações angolanas.

Foi assim na passada semana, logo a 04 de Novembro, um dia depois da ida às urnas na maior economia mundial e, por isso, onde o petróleo mais é influenciado no seu sobe e desce permanente, partindo dos 41,30 USD por barril para os 39,2 a 06 de Novembro, ameaçando transformar a derrota de Trump num terramoto nos mercados energéticos.

Mas não foi isso que sucedeu. Já na sexta-feira, quando, como o Novo Jornal foi acompanhando hora a hora, a vitória de Joe Biden se começava a impor no horizonte, os mercados assumiram que, afinal, a saída de cena de Donald Trump até poderia ter efeitos positivos.

Isto, porque o equilíbrio dos mercados resulta de múltiplos factores e, como admitem vários analistas, uma economia como a dos EUA, a maior do planeta, não pode viver indefinidamente sem um plano concreto de combate à pandemia da Covid-19, que é o factor nº1 da actual crise no sector, e isso só Biden o garante, como ficou claro na campanha eleitoral, na qual Trump sempre minimizou os efeitos pandémicos.

Hoje, segunda-feira, isso ficou claro com o Brent a ganhar, perto das 09:20 de Luanda, 2,45%, para os 40.42 USD por barril, em relação a contratos para Dezembro e face ao fecho de sexta-feira, a última sessão, enquanto em Nova Iorque, o WTI, à mesma hora e para os mesmos futuros, o barril ganhava mais ou menos o mesno, 2,48 %, para 38.03 USD.

Mas, depois de passar o efeito furacão das eleições norte-americanas pelos mercados petrolíferos, a ventania tende a amainar e nos próximos dias, quando para o final do mês está prevista mais uma reunião importante da OPEP e da OPEP+, organização que junta, desde 2017, os exportadores cartelizados e um grupo desalinhado liderado pela Rússia, deverão voltar a repor a Covid-19 como o elefante verdadeiro dentro da sala de porcelanas.

Isto, porque da Europa à Índia, dos EUA ao Brasil... as grandes economias mundiais, de onde apenas se safa, aparentemente, a China, os confinamentos agressivos estão a voltar a ser o pão nosso de cada dia, como é o caso de Portugal, que regressou hoje ao estado de emergência, a condição legal mais opressiva para aquele país europeu, que, tal como nos restantes, a pandemia não parece querer dar tréguas.

E o mesmo deverá suceder nos EUA, até aqui, por causa da permissividade de Donald Trump, o lugar no planeta com menos restrições contra a pandemia, mas com o Presidente eleito a já ter anunciado a formação de uma equipa de peritos para desenhar a aplicação de um programa nacional de combate à Covid-19 que, apesar de o actual inquilino da Casa Branca ainda ter plenos poderes até 20 de Janeiro, naturalmente que deverá - embora com Trump seja difícil de garantir que assim será - ir acolhendo os conselhos destes peritos indicados pela "Administração" Biden/Harris.

Um outro indicador que está a emergir na "rede" é uma normalização das relações comerciais dos EUA com a China, a segunda maior economia do mundo e aquela que mais cresce, gerando as maiores oscilações positivas para o mercado energético.

Depois de quatro anos de sucessivas guerras comerciais declaradas pela Administração Trump, o que, logo a seguir à pandemia da Covid-19, foi o factor que mais desestabilizou os mercados nos últimos tempos, especialmente com as taxas extraordinárias que Trump aplicou a Pequim, sobre mais de 300 mil milhões USD de importações Made in China, ao que do outro lado da barricada surgiu como resposta medidas semelhantes, embora menos ruidosas, com Biden tudo tende a estabilizar.

E quando os dois "elefantes" da economia global deixam de lutar, o "capim", as economias mais pequenas e dependentes das exportações de crude, como é o caso de Angola, podem, naturalmente, respirar melhor e aguardar com alguma esperança por melhores dias, que, apesar de tudo, só o tempo poderá confirmar ou infirmar.

Outro tema que poderá influir nos mercados com o assumir da Administração Biden/Harris é o que vai ser a política de Washington para com o Irão, especialmente, mas também Venezuela, dois gigantes da produção petrolífera que foram esmagados pelo poder de influência e bloqueios decretados por Donald Trump.

Ou seja, se Biden realinhar o azimute que ele próprio ajudou a desenhar, quando era vice-Presidente de Barack Obama, do acordo nuclear de 2015 com Teerão, que envolveu ainda a China, a Rússia e a União Europeia, aliviando de novo as restrições económicas a este produtor do Médio Oriente por troca com o congelamento do programa nuclear do Irão, serão, naturalmente, mais centenas de milhares, pelo menos, de barris de crude que regressam aos mercados, podendo isso empurrar o valor da matéria-prima para baixo.

E o mesmo sucede com a Venezuela, cuja produção, por causa da grave crise económica e política que atravessa, fortemente impulsionada pela pressão feita por Washington, viu a sua capacidade de extracção reduzida à insignificância, apesar de ser o país com as maiores reservas provadas do mundo, cerca de 300 mil milhões/barris.

Recorde-se que, actualmente, a OPEP+ tem em curso um plano de cortes que está a enxugar os mercados em 7,7 milhões de barris por dia (mbpd), para reequilibrar a procura, fortemente abalada pela crise pandémica, com o seu impacto em crescendo e, provavelmente, a exigir que o calendário estabelecido venha a ser reequacionado, alongando os actuais cortes para além de 01 de Janeiro de 2021, quando para esta data está previsto uma diminuição nos cortes para 5,5 mbpd.

Mas há, segundo refere hoje a Reuters, outro dado preocupante para a OPEP+, de que Angola faz parte, que é uma diminuição substancial das importações de crude da China, o maior importador global, de 12% entre Setembro e Outubro, revelando uma perda de vigor da economia planetária por causa da Covid-19, que está a corroer o seu potencial exportador.