Apesar de hoje o Brent ter arrefecido um bocadinho, baixando para os 69,15 USD o barril, o facto é que a tendência dos últimos meses vem-se consolidando em alta, muito por causa dos cortes da OPEP mais os associados circunstanciais, especialmente o gigante Rússia, no acordo de 2016 para abater 1,8 milhões de barris por dia (mbpd) à produção.

Mas também as crises que amiúde vão surgindo um pouco por todo o lado têm contribuído para catapultar os preços, como as quebras na produção nigeriana devido às guerrilhas do Delta do Níger, ou as avarias em pipelines importantes, por causa do frio raro que está a congelar o nordeste dos EUA ou a instabilidade recente no Irão, etc.

Face a isto, países mais dependentes das exportações de petróleo, como é o caso de Angola ou, entre outros, a Venezuela e a Nigéria, mas também a Arábia Saudita, apesar da riqueza que ostenta, vão esfregando as mãos com o superavit que lhes está a ser oferecido pelos mercados, especialmente na folga orçamental que isso permite.

Entre a contenção e a euforia

Mas os recados para que se opte por alguma contenção e não se bandeire em arco começam a surgir.

Nick Cunningham, um especialista que escreve para o site OilPrice, adverte para isso mesmo, que possam ser os preços elevados a provocar uma retracção nos mercados empurrando o barril para preços mais baixos e provavelmente mais adequados à realidade.

Para este analista, que suporta ainda a sua tese noutros entendidos na matéria, como os analistas do Barclays, o mercado do crude está a assistir actualmente a uma "tempestade perfeita" que justifica a alta do barril, como as extraordinariamente baixas temperaturas no nordeste dos EUA, a instabilidade no Irão e o forte crescimento da economia global, que podem não ser tão sólidos quanto parecem, chamando ainda à atenção para o facto de alguns fundos globais de risco estarem a puxar para cima o valor da matéria-prima.

No entanto, este pessimismo, na perspectiva dos países exportadores, tem batido de frente contra a parede da realidade que as aberturas de mercados feitas pelas agências de notícias internacionais nos mostram todas as manhãs, como a Reuters, por exemplo, que hoje volta a lembrar que os preços bateram na terça-feira, ontem, "no seu nível mais alto desde 2014", embora sublinhando a abrir a notícia que há analistas convencidos de que se está perante um excesso insustentável no médio prazo.

Mas, entre o pessimismo e o optimismo, dependendo se se é produtor ou comprador, alguns factos ressaltam mais que outros, como a continuada quebra, em cinco a seis milhões de barris por semana, nas reservas norte-americanas, a extensão dos cortes da OPEP+Rússia, o sólido e substancial crescimento da economia global comprovada pelas análises do FMI e a, embora menos garantida, sucessão de pequenos episódios de instabilidade em regiões estratégicas, são o suficiente para que os gestores de "hedge funds" mantenham o dinheiro no sector e os mercados se mostrem convencidos, sendo prova disso mesmo a subida contínua do barril, tanto em Londres (Brent) como nos EUA (WTI, Texas), desde pelo menos Março de 2016, quando esteve na casa dos 20 USD.

Recorde-se que os cortes da OPEP e dos parceiros, incluindo a Rússia, México, Cazaquistão, e mais nove produtores, foram definidos em Novembro de 2016 no valor de 1,8 mbpd, foram depois prolongados de Junho de 2017 para Março de 2018 e ainda mais em Novembro do ano passado, para, pelo menos, finais de 2018, com sinais claros de que pode não ficar por aqui o calendário do enxugamento dos mercados.

Face a isto, na primeira semana deste ano, o Instituto Americano do Petróleo anunciou um recorde nas quebras das reservas dos EUA de mais de 11 milhões de barris e, como se fosse pouco, a melhor informação sobre esta realidade aponta para um crescimento da procura na ordem dos 100 mil bpd para o ano corrente em todo o mundo, face às previsões anteriores, que já eram todas actualizadas em alta há vários meses consecutivos.

Bela sem senão, todavia, não há.

Pois, mas então, o que permite a alguns analistas apontarem para uma descida, que pode ser vertiginosa, no médio prazo? A primeira razão para isso parece ser o aumento desenfreado da produção nos Estados Unidos, que já ultrapassou os 10 milhões de barris por dia (mbpd), tanto graças à sua produção tradicional, on e off shore, mas muito por causa do regresso ao activo dos produtores alternativos do "fracking" ou também chamado petróleo de xisto, que resulta da explosão da rocha com jactos de água em alta pressão no subsolo para dela retirar gás e petróleo.

Estes produtores foram quase todos à falência ou obrigados a encerrar portas quando os preços do barril ruíram a partir de 2014, porque o seu "breakeven" ronda os 65 USD/barril, o que lhes permite, agora, voltar em força.

Mas esse regresso está a ser refreado por causa do risco no horizonte, apesar de muitos já estarem no activo de novo, com medo de nova derrocada, assim como a banca se mostra, como têm sublinhado alguns "reports" do sector, cuidadosa na concessão de créditos a este sector tendo em conta que o rombo provocado em 2014 e 2015 foi de monta porque os empresários do "fracking" deixaram de poder pagar os empréstimos avultados que usaram para iniciar a exploração.

Para Angola, onde o petróleo, segundo os últimos indicadores, apesar de o petróleo ter descido de 95 para 74 por cento no peso nas exportações do país, e em cujo Orçamento do Estado o barril surge cotado muito abaixo dos actuais valores, o actual cenário permite, como o próprio Executivo já admitiu, uma folga importante nas contas públicas.

Por exemplo, o OGE/2018 está feito no pressuposto do barril valer 50 USD, o que permite arrecadar em receitas fiscais mais de 14 mil milhões de dólares, sendo natural que essa folga se dilate com a subida esperada do barril de crude, apesar de os actuais quase 70 USD que vale no mercado de Londres já garantir uma folga alargada e que pode ser canalizada para alicerçar as reformas em curso no país, nomeadamente no que diz respeito aos ambiciosos projectos no âmbito da diversificação da economia.

Ainda é cedo para deixar estourar as bolhas do champanhe

Uma das bizarrias mais noticiadas em todo o mundo por causa dos elevados preços do petróleo são os exageros registados pelas elites mais próximas do poder nos países produtores e exportadores, como foi durante anos o caso da Arábia Saudita ou outros países do Golfo, com os seus jactos privados, carros de luxo, etc, mas também em países menos abastados, como Angola ou a Nigéria.

Em Angola, por exemplo, uma conceituada marca de champanhe francês admitiu mesmo ser um fenómeno a quantidade de vinhos que vendia em Angola, quando o barril de petróleo se manteve acima dos 100 USD, ou as marcas de carros de luxo que se apressaram a abrir stands em Luanda e que depressa fecharam quando as coisas deram a volta para baixo.

Para já, a convicção que existe, e que o Presidente da República tem vindo a reafirmar, é que Angola não pode deixar passar esta oportunidade para diminuir a sua dependência do petróleo através da diversificação da economia.

João Lourenço repetiu isso mesmo na conferência de imprensa alargada que deu na segunda-feira.

"Angola não tem outra saída senão diversificar a sua economia (...).Temos que passar a acções concretas, no sentido de fazer com que as nossas exportações não se baseiem apenas no crude, no petróleo bruto", disse o Presidente da República.

Tal como os produtores do "fracking" norte-americanos estão num esforço de contenção para ver se voltam ou não em força à produção, os analistas mais avisados são de opinião que em Angola, mesmo que o barril volte a brilhar como outrora, o melhor é manter as garrafas de champanhe arrolhadas para evitar que a(s) bolha(s) do mercado rebente(m) de novo.