Mas também porque a Organização dos Países Produtores de Petróleo (OPEP) tem tudo, ou quase tudo, definido para prolongar os cortes de 1,8 milhões de barris por dia (mbpd) a partir de Março do próximo ano, consolidando a ideia de que o cartel, e os seus associados neste esforço de redução na produção, com destaque para a Rússia, continua empenhado na estratégia de enxugamento dos mercados.

A estes dois pilares que sustentam a subida de hoje no crude, junta-se ainda o circunstancial facto de que um dos mais importantes oleodutos que ligam o Canada aos EUA, "Keystone pipeline", estar condenado a parar o fluxo já no final deste mês devido a uma avaria grave que levou à perda de milhares de barris.

Mas a queda das reservas nos EUA divulgada pelo Instituto Americano do Petróleo foi o facto decisivo para este regresso das subidas do barril, porque confirma que a estratégia da OPEP está a dar resultados, não só no que diz respeito ao mercado norte-americano, a maior economia global, mas também nos emergentes, China e Índia, ou mesmo Brasil, quando, ao mesmo tempo, a economia mundial dá claros sinais de retoma.

No entanto, no horizonte começam a solidificar outros sinais de alarme, desta feita com a recente saída do Fundo Soberano norueguês do mercado petrolífero, fazendo sair deste mais de 35 mil milhões de dólares, ou ainda a ameaça, demasiado séria para não ter efeitos, que são as apostas das grandes marcas de automóveis nos carros eléctricos ou da consciencialização global de que o petróleo está no topo dos contribuintes para o aquecimento global, levando cada vez mais países a substituir esta matéria-prima e o carvão pelas energias limpas na produção de electricidade.

Seja como for, para já, o que mais peso parece ter nestas oscilações, que ora beneficiam, em alta, ora prejudicam, em baixa, as economias dos países produtores, como é claramente o caso de Angola, que tarda a conseguir resultados na substituição do crude como motor económico, é o acordo da OPEP+Rússia e outros, para manter os cortes na produção, sendo uma etapa essencial a próxima reunião do cartel & companhia em Viena de Áustria, no dia 30 deste mês.

Ali prevê-se que o acordo, que já vem de Janeiro deste ano, tendo sido prolongado a partir de 30 de Junho para Março de 2018, venha agora a ser novamente estendido. Mas este dado é já tido como garantido, esperando os mercados, como alguns analistas admitem, que seja inserida uma surpresa para este encontro, como, por exemplo, aumentar os cortes em pelo menos 100 mil bpd.

Uma coisa é certa, se os cortes não forem mantidos, torna-se incontornável uma nova vaga de descidas no preço do barril, pelo menos até que os mercados percebam em que pé está o equilíbrio, ou o desequilíbrio, entre a oferta e a procura.

Do saldo deste deve e haver poderá resultar o retomar da indústria norte-americana do petróleo de xisto, ou "fracking", que, por estes dias está numa espécie de "stand by" por não saber muito bem o que fazer, tendo em conta que muitos destes produtores alternativos foram à falência em 2014 devido à tremenda descida do barril de mais de 100 USD para abaixo de 30 USD, tendo mesmo, no início de 2016, ameaçado chegar aos 20 USD, deixando-os a milhas de distância do "break even".

Nenhum destes produtores pode arriscar agora nova falência, até porque dependem quase todos de crédito bancário que se mostra reticente em apostar de novo neste nicho.

E essa tem sido uma das sortes da OPEP. Mas que pode acabar, como têm alertado os mais destacados analistas do mercado, se os preços em alta se mantiveram de forma prolongada e coerente, porque, aí, nessa circunstância, o sector do "fracking" voltará em força.

Para países como Angola, todavia, estes últimos meses têm sido salvíficos porquanto permitiram aliviar o stresse das suas economias, muitas delas à beira da bancarrota, como foi o caso da Venezuela, ou mesmo da Arábia Saudita, que, apesar de ser o maior produtor mundial, atravessa uma grave crise que levou Riad a apostar seriamente na diversificação do seu tecido produtivo.

Isto, a ponto de a abertura nos costumes, sob rígido controlo de um radicalismo religioso arcaico, como mais direitos para as mulheres, estar a ser visto como uma exigência se a Arábia Saudita quiser apostar no sector do turismo para impulsionar a sua actual petroeconomia, visto que a agricultura não é alternativa no deserto e a produção industrial dificilmente teria competitividade suficiente para se impor devido aos custos de produção elevados.

Agora, a pergunta de um milhão de barris para Angola e restantes membros da OPEP é: até quando vai durar a bonança? Ou até onde poderá subir o preço do barril? mas todos têm os olhos postos nos extraordinários 147 USD a que este chegou no Verão de 2008.