Com Angola já na qualidade de Presidente rotativo da Organização de Países Exportadores de Petróleo (OPEP), este encontro começou por se traduzir em ganhos volumosos no valor do barril logo no início da sessão de segunda-feira, porque as agências de pendor económico como a Reuters ou a Bloomberg, bem como os sites especializados, como o OIlPrice, noticiaram que os membros da OPEP+ estavam maioritariamente inclinados para que esse acrescento à produção não tenha lugar em Fevereiro como previsto.

Isso levou o barril de Brent, como já não sucedia há 10 meses, a chegar aos 53 dólares, embora, com o esticar do dia, as dúvidas se fossem acumulando ao mesmo tempo que esta cifra ia perdendo vigor, porque não saia uma decisão de Viena de Áustria, onde está a sede da OPEP, e porque também as notícias de um cada vez maior número de países em confinamento devido ao recrudescimento dos casos de Covid-19 - o Reino Unido está quase todo em confinamento severo -, faziam crescer o receio de que as campanhas de vacinação são menos rápidas a fazer efeito do que se esperava.

E é por causa deste fortalecido receio que, segundo se pode ler hoje nas notícias das agências e dos sites da especialidade - Angola, apesar de ter a presidência da OPEP, comunica a conta-gotas e apenas com os media escolhidos a dedo e os estatais, obrigando a restante imprensa a procurar a informação desta forma - a maioria dos membros da OPEP+ está inclinada para defender a manutenção da produção actual, anulando o plano que previa aumentar 500 mil bpd em Fevereiro.

Recorde-se que o programa de cortes inicial, criado no início de 2020, projectava um abatimento à produção de 7,7 milhões de barris por dia (mbpd) e 5,7 a partir de Janeiro deste ano, mas os membros da OPEP+ decidiram refazer as contas e avançar com uma recuperação paulatina da produção para os 5,7 mbpd com 500 mil mensais a mais a partir de 01 de Janeiro.

Essas contas estão agora, também, a ser refeitas porque a pandemia não deixou de mostrar as garras e as campanhas de vacinação tardam a surtir os efeitos prometidos.

Mas essa confirmação só será conseguida assim que terminar a reunião do JMMC que hoje continua e todos os membros se pronunciarem, especialmente a Rússia e a Arábia Saudita, os dois gigantes da produção e exportação mundiais - com os EUA perfazem os 3 maiores produtores do mundo -, porque, historicamente Moscovo tem sido menos receptivo à dilatação de prazos nos programas de corte à produção, como é o caso actual, onde defende que seja seguido o que está previsto.

Neste momento, Rússia e Emirados Árabes Unidos estão a favor, enquanto sauditas e o Kuwait, defendem a manutenção dos níveis actuais, o que esteve por detrás da extensão da reunião para hoje.

Embora a maioria dos países esteja a favor do status quo, a oposição da Rússia, cujo papel é sempre decisivo e o confronto com os sauditas já levou a algumas das mais severas crises no sector, deverá ser diluído com o facto de a pandemia do Sarc CoV-2 estar aí para as curvas sem dar sinal de derrota para breve face ao início das campanhas de vacinação.

O optimismo gerado nas últimas semanas de Dezembro, quando as primeiras vacinas começaram a ser inoculadas, está agora, claramente, a desvanecer e as farmacêuticas que as criaram já começaram a dar explicações para os atrasos na produção, ao mesmo tempo que outras estão a ser aprovadas queimando etapas, o que contribui ainda mais para a desconfiança que estas estão a gerar em todo o mundo.

O próprio secretário-geral da OPEP, Mohammad Barkindo, na segunda-feira, citado pela Bloomberg, veio dizer que o sentimento para 2021 no que diz respeito ao preço do crude "é misto" porque existem "muitos riscos com que vai ser preciso lidar", referindo-se especialmente à demora para sentir os efeitos das vacinas.

No entanto, o que parece já ser claro é que se se confirmar que o aumento previsto de 500 mil bpd em Fevereiro for anulado, o barril terá aí um impulso extra nos mercados, mas essa certeza só se poderá ter mais tarde, ao longo do dia, quando for anunciada uma decisão.

Na segunda-feira o barril de Brent, mercado que define o valor médio das ramas angolanas, chegou aos 53,08 USD, em Londres, estando hoje a valer substancialmente menos devido às dúvidas existentes sobre as decisões do JMMC e da eficácia das campanhas de vacinação, estando a valer, perto das 11:00 de Luanda, 51,45 USD, embora se preveja que venha a ganhar bastante se Fevereiro não vir crescer a produção do "cartel".

Recorde-se que este cenário, a verificar-se, como tudo aponta que venha a suceder, é um momento extraordinário para Angola, apesar de os valores em questão não se compararem com aqueles que, no passado, a partir de 2008, levou o País a ser o maior produtor africano durante largos meses, com cerca de 1,8 mbpd, e a viver uma bonança difícil de repetir, com o barril, como exemplo, a chegar aos 147 USD no Verão desse mesmo ano.

A produção actual está abaixo dos 1,3 mbpd e em constante declínio devido ao desinvestimento das "majors" a operar no offshore nacional, especialmente a partir de 2014, quando se verificou uma quebra abrupta do valor do barril, que passou de mais de 120 USD para menos de 30 dois anos depois, em 2016.

Apesar das mudanças substanciais na legislação referente ao sector e às alterações profundas nesta indústria decisiva para o País, a produção demora a arrancar para os patamares mais próximos daqueles que se viram no passado.

Para já, com o barril da matéria-prima nos 53 USD, o Executivo de João Lourenço conta com uma folga de 20 USD em cima dos 33 USD que foi o valor usado como referência para a elaboração do OGE 2021, o que permite encarar com maior optimismo esta saída esperada da crise mundial, apesar dos fortes constrangimentos que a economia nacional enfrenta.

O crude é ainda responsável por mais de 94% das exportações angolanas, mais de 50% do PIB e representa 60% das receitas do Executivo para poder gerir as necessidades da governação, o que, face a uma lenta e demorada diversificação da economia nacional, se traduz numa mais optimista entrada no novo ano e nova década do século XXI.