Com a Síria à beira de ser, mais uma vez, atacada por ordem do Presidente norte-americano para punir um alegado ataque com armas químicas no Sábado imputado ao regime de Bashar al-Assad, e o desenvolvimento da guerra comercial iniciada por Donald Trumpo com a China, está criado o efeito colateral mais evidente nestes cenários: a subida do preço do petróleo.

Mesmo com o plano activo de corte na produção de 1,8 milhões de barris por dia (mbpd) que junta a OPEP e outros produtores, como a Rússia, desde Janeiro de 2017, o barril de petróleo, embora em ascensão permanente, não subiu, como muitos esperavam, acima dos 70 USD por causa disso.

Alguns analistas foram sublinhando o moderado sucesso da estratégia do "cartel" - mais a Rússia - para fazer subir os preços, muito devido ao aumento da produção dos EUA, o 2º maior produtor do mundo, mas também pela expectativa de uma diminuição na necessidade das economias modernas de petróleo, como é disso exemplo o sector automóvel, em rápida mudança para a propulsão eléctrica.

Era necessário o surgimento de um "cisne negro", designação para eventos sociais, económicos ou militares, etc. improváveis - os cisnes são, por norma, de cor branca e os negros são raridades genéticas - para levar o petróleo à fornalha da imprevisibilidade.

Esse "cisne negro" não surgiu ainda, mas há, pelo menos, um "cisne cinzento" que está a acontecer na actualidade, que é a guerra comercial declarada pelas EUA à China, que pode atingir valores de 100 mil milhões de dólares em tarifas suplementares - até 25% - aplicadas por Washington às importações oriundas da China, com destaque para o aço, sendo impossível, para já, de estimar as quantias que podem ser atingidas com o desenrolar deste conflito, visto que o Presidente chinês avisou que iria, o que já está a acontecer, ripostar aplicando novas taxas aos produtos americanos que entrem no país.

Face a esta acção de Trump, anunciada há mais de um ano mas só agora consumada, os mercados petrolíferos reagem com uma subida, apesar de as taxas terem como efeito imediato uma diminuição da sua necessidade com a quebra da produção industrial nas duas maiores economias do mundo, o que dá a tonalidade cinzenta ao "cisne" neste caso.

Mas tal fenómeno é inexistente no que diz respeito ao eminente ataque dos EUA e dos seus aliados ocidentais, com França e Reino Unido na linha da frente, à Síria, porque, com o avanço das forças de Assad, com apoio da Rússia e do Irão, sobre território ocupado por organizações terroristas, muitas delas ligadas ao "daesh - estado islâmico", adivinhava-se uma acção ocidental para dificultar a consolidação e o estabelecimento de Moscovo neste país, cuja localização é essencial na geoestratégia do Médio Oriente.

Mas o efeito foi importante neste novo impulso do barril de petróleo para lá dos 71 USD, até porque existe a possibilidade de a Arábia Saudita, como disse ainda ontem, em Paris, um dos príncipes herdeiros do reino, se juntar à coligação ocidental no castigo ao regime sírio.

A incendiar ainda mais o cenário, está o facto de a Rússia já ter garantido que vai responder a qualquer ataque na Síria, acusando o ocidente de estar a responder a uma inexistência, porque nega que tenha ocorrido uma ataque químico, afirmando que se trata de uma invenção dos grupos terroristas para levar os EUA e aliados a uma intervenção militar na Síria.

É por isto que o petróleo já vai nos 71,27 dólares, em Londres (Brent), que define o valor das exportações nacionais, o que, em última análise, serve na perfeição os interesses angolanos, que tem na matéria-prima a razão de 95 por cento do total das suas exportações, o OGE moldado a partir do barril a 50 USD, permitindo assim uma folga de 20 USD para lidar com emergências, como é, na globalidade, a actual situação económica.