Estes dados com que abriu a semana dos mercados petrolíferos encerram uma evidente contradição, exposta pelo facto de, apesar dos riscos crescentes da pandemia da Covid-19, dos novos confinamentos e do atraso evidente no efeito esperado das vacinas sobre a infecção que desde o início de 2020 mergulhou o mundo em "trevas" económicas e sanitárias como já não se via há décadas, o barril estava, perto das 10:00 de Luanda, a ganhar 0,67% em relação ao fecho de sexta-feira, para 55,71 USD, enquanto em Nova Iorque, o WTI, pela mesma hora, estava a subir 0,63% para 52,60 USD, ainda graças à política de cortes da OPEP+ e dos estímulos à economia esperados nos EUA.

E, como pano de fundo, foi agora divulgado pela Reuters que as cinco "majors" do universo petrolífero reduziram os investimentos na pesquisa por novas bolsas de crude e gás devido às perspectivas pouco animadoras para a procura no advir breve, como a Agência Internacional de Energia (AIE) tem sublinhado, além dos dados que perspectivam uma redução nas importações chinesas, o maior importador planetário, e o atraso na efectivação dos resultados das campanhas de vacinação sobre a pandemia da Covid-19.

A redução esperada nas importações chinesas são uma consequência directa do aumento de casos do novo coronavírus no país que mais petróleo importa e consome no mundo, ao mesmo tempo que o outro gigante do consumo e um dos três maiores produtores do mundo, os EUA, mostram estar a consumir menos depois de as autoridades do sector terem informado que ocorreu uma subida nas reservas do país na última semana por causa, sempre, da Covid-19.

Para além da progressão abrasiva da pandemia, os mercados estão igualmente atentos ao que se está a passar com a retoma das conversações entre os EUA e o Irão após a chegada de Joe Biden ao poder em Washington, com o esperado regresso do país ao acordo nuclear com Teerão do qual Donald Trump tinha saído intempestivamente, o que permite adivinhar uma redução das sanções e a retoma das exportações iranianas, sendo o Irão um dos maiores produtores e exportadores do mundo. A Líbia é outro país em crescendo no que toca a exportações de crude.

Mas não é apenas este o problema que está subjacente a este menos bom início de semana nos mercados petrolíferos. Os dados mais recentes sobre os investimentos das cinco maiores companhias petrolíferas ocidentais indicam que estas estão em retirada das novas aquisições de licenças de exploração, tendo estas diminuído significativamente em 2020, embora Angola surja nos dados avançados pela consultora norueguesa Rystad Energy como uma das excepções graças às aquisições da Exxon de posições em três blocos e da Total.

Estas cinco "majors", que são a Total, a Exxon Mobil, a Shell, a Chevron e a BP, estão claramente a reduzir as suas apostas em novas prospecções, o que, segundo esta consultora, indica que estas não estão a querer agregar novos compromissos fora daquilo que consideram ser a sua estrutura central de actividade, o seu "core" absoluto de forma a reduzir os riscos que seguem no rasto do crescimento da pandemia, pelo menos enquanto esta não estiver debelada.

Em síntese, isto significa que as companhias não estão com disponibilidade para apostar em novas licenças que permitem pesquisar por novas reservas que, se estas se revelarem viáveis, exigem investimentos volumosos para deles usufruir num futuro de médio-longo prazo sobre o qual ninguém pode ter hoje certezas minimamente seguras.

O que pode ser igualmente, no médio-longo prazo, bom para os países produtores-exportadores que se mantiverem à tona da água, visto que esta redução da pesquisa deve, admitem os analistas, conduzir a uma nova situação de superação da procura face à oferta, pós pandemia, o que é condição segura para uma nova escalada nos preços do barril.