Nos últimos dias, o barril tem estado num vai-e-vem entre os 77 e os 78 USD, o que alimentou a ideia de que, finalmente, poderia disparar para o interior da casa dos 80 USD, preço alinhado com as perspectivas recentes de que a centena de dólares não estaria fora das conjecturas devido à sucessão de crises no Médio Oriente, às sanções norte-americanas ao Irão, à crise desgastante na Venezuela ou ainda às sucessivas quedas nas reservas das grandes economias mundiais, especialmente a norte-americana.

Igualmente importante para este cenário de alta em perspectiva tem sido a crescente consolidação da ideia de que as novas regras da Organização Marítima Internacional (IMO, sigla em inglês), que é a agência da ONU que define as regras do transporte marítimo global, poderão dar um forte contributo à valorização do petróleo nos próximos meses.

Isto, porque a IMO determinou que, a partir de 2020, os grandes navios de transporte, responsáveis por cerca de 7% do consumo de crude mundial, vão deixar de poder utilizar fuel - combustível pesado com elevado teor de enxofre -, por razões ambientais, sendo obrigados a recorrer a combustíveis mais amigos do ambiente,

O problema é que o mundo não está preparado para este cenário porque faltam refinarias em número suficiente equipadas para produzir esse combustível menos poluente a partir de crude com alto teor de enxofre e também porque um grande parte das reservas mundiais conhecidas são de crude pesado, menos adequado para produzir combustíveis leves, podendo isso, segundo alguns analistas, levar a uma subida significativa do valor do barril de petróleo "doce" e a uma variação negativa das ramas mais pesadas.

Para já, como o demonstra a abertura dos mercados, o Brent londrino iniciou a semana com uma subida de mais de 1 por cento, para 77,73 USD, especialmente, no imediato, por causa do aproximar da data em que o petróleo ido Irão, que é o 3º maior produtor da OPEP, vai estar, de novo, sob sanções norte-americanas, o que deverá levar a uma redução da oferta global superior a 1 milhão de barris por dia (mbpd).

Citado pela Reuters, Harry Tchilinguirian, estratega para o sector petrolífero do BNP Paribas, defende que está a ser construído um cenário de petróleo em alta com base na questão iraniana, mas também com, entre outras razões, as crises e instabilidade política na Venezuela e na Líbia, que afectam a produção, e ainda a ausência, contrariando alguns cenários, de impacto significativo no consumo mundial da guerra comercial entre os EUA e a China.

"Estamos a prever que o barril de Brent se instale em breve acima dos 80 USD", disse este especialista.

No entanto, por detrás desta teimosa resiliência face a estas expectativas de subida, ainda segundo analistas, estará o acordo assinado entre a Rússia e a Arábia Saudita, 3º e 1º produtores mundiais, em reduzir e aumentar as respectivas produções por forma a manter o preço numa faixa estreita e, assim, impedir que o temido petróleo de xisto, ou "fracking" , norte-americano, se torne apelativo devido aos custos elevados de produção por barril.

Este tipo de petróleo foi um dos principaus responsáveis pela queda abrupta a partir de 2014, quando o barril estava acima dos 100 USD, valor muito acima do breakeven do fracking, que ronda os 75 USD.