O projecto Inga III, que será o 3º pilar deste complexo de barragens no Rio Congo, que no mapa poderá ser visualizado geograficamente entre a província de Cabinda e o restante território nacional, a cerca de 150 quilómetros a sudoeste de Kinshasa, foi anunciado em 2013 mas diversos problemas entre as empresas construtoras, espanholas e chinesas, levaram ao adiamento do início das obras.

Mas, quando a Inga III estiver construída, com gastos previstos de 14 mil milhões de dólares norte-americanos, vai produzir 11.050 megawatts - cinco vezes mais que a maior barragem angolana -, perfazendo um total de 40.000 megawatts do complexo hidroeléctrico congolês do Inga, denominado Grande Inga, adquirindo o estatuto de maior barragem do continente africano e um dos maiores do mundo.

Estes números vão permitir ao complexo Grande Inga obter capacidade real para fornecer energia a vários países da região austral do continente africano, de Angola à África do Sul, dois dos países que já mostraram interesse neste potencial.

Como comparação para o gigantismo deste projecto - apenas o Inga III - considere-se que custará três vezes mais que o maior projecto hidroeléctrico angolano, o da Laúca, que ficou por 4,5 mil milhões USD, e terá pelo menos cinco vezes mais capacidade, chegando aos 11.050 megawatts, que comparam com a capacidade máxima de 2.072 megawatts de Laúca.

Segundo noticiou a Bloomberg, o Governo angolano já manifestou às autoridades congolesas a vontade de comprar pelo menos metade da produção de Inga III, cerca de 5.000 megawatts, colocando apenas como condição que o custo total não ultrapasse os 30 USD megawatts por hora.

A África do Sul é o outro grande potencial cliente da electricidade produzida a partir do futuro projecto Inga III, tendo Pretório demonstrado interesse em pelo menos 5.000 megawatts.

Este cenário está, no entanto, a gerar desconforto na sociedade congolesa porque existe a possibilidade de os congoleses ficarem arredados dos benefícios da energia produzida no país porque seria, a manterem-se estes dados, quase totalmente exportada, o que contrasta pesadamente com o facto de a RDC ter actualmente um gigantesco défice de fornecimento de energia à população.

Isto, apesar de, e se o projecto, como está actualmente projectado, chegar a ver a luz do dia, ser claramente o maior projecto hidroeléctrico africano, faltando, actualmente, a aprovação final pelo Presidente congolês, Félix Tshisekedi, que tem a proposta dos dois parceiros construtores, uma empresa chinesa - China Three Gorges Corporation - e outra espanhola - Actividades de Construction y Services -, desde que assumiu o poder, em Janeiro, em cima da mesa.

Angola vai requerer parte da energia produzida no Inga a partir de 2025, segundo uma carta enviada pelo ministro angolano da Energia e Águas ao seu homólogo congolês e a cujo conteúdo a Bloomberg teve acesso.

Recorde-se que, independentemente dos 5.000 megawatts que pode comprar a partir do Inga III, as autoridades de Luanda e de Kinshasa estão a negociar a exportação de electricidade a partir dos actuais Inga I e II para Cabinda, num total de 100 megawatts.

Este projecto, que foi anunciado ainda durante a Presidência de Joseph Kabila, esteve envolto em polémica durante anos devido à falta de transparência, tendo mesmo o Banco Mundial suspendido um financiamento de mais de 70 milhões de dólares para estudos ambientais depois de Kabila ter assumido o controlo directo da agência responsável pelo Grande Inga.

No entanto, estes estudos ambientais são considerados essenciais porque aquele que tende a vir a ser o maior complexo de barragens do mundo, vai, aquando da sua efectiva construção, exigir a deslocação de milhares de pessoas, reconstruir dezenas de localidades, desviar o actual curso do Rio Congo e gerar gigantescos danos ambientais.

Os cálculos feitos por várias ONG internacionais de defesa do ambiente apontam para o alagamento de mais de 25 mil hectares de terras, que são parte de um conhecido ecossistema composto por floresta tropical e áreas de biodiversidade única no mundo.

Para além deste impacto directo do alagamento da zona de albufeira, este projecto vai ainda exigir o desmatamento de milhares de hectares para a construção de milhares de quilómetros de linha de alta tensão para levar electricidade às áreas de mineração de cobre do sudeste congolês e para os países vizinhos, como Angola ou mais distantes, como a África do Sul.