Após as vindimas na África do Sul, onde uma prolongada seca afectou a quantidade produzida mas proporcionou um aumento de qualidade ao livrar as vinhas de algumas doenças provocadas pelas chuvas, como as que geram podridão dos cachos, a Vinpro, organismo que administra as questões ligadas à promoção da vitivinicultura do país, regista uma quebra de 15% em relação a 2017.

Mas essa quebra não esmorece as intenções das autoridades sul-africanas, como é disso exemplo o Governo do Cabo Ocidental, com o seu ministro para as Oportunidades Económicas, Alan Winde, citado pela revista daquele organismo, a sublinhar o crescente interesse na China e em Angola pelos vinhos produzidos na África do Sul, especialmente na região do Cabo Ocidental.

Mas a estratégia sul-africana para penetrar estes dois mercados conta ainda com alguns factores extraordinários.

Um deles é o impacto das alterações climatéricas em alguns dos principais produtores mundiais, como são o caso da França, Espanha e Itália, cujas produções diminuíram na última colheita, abrindo espaço para que os vinhos sul-africanos possam chegar a alguns mercados tradicionalmente fornecidos maioritariamente por estes produtores.

E o outro, pode ser uma aposta "política" de Angola na substituição dos vinhos portugueses, que hoje detêm 70 por cento do consumo de vinho em Angola, pelos sul-africanos, no rasto da crise diplomática que afecta as relações entre Luanda e Lisboa por causa do caso em que o ex-Presidente Manuel Vicente está envolvido na justiça portuguesa e que o Executivo angolano pretende ver transferido para os tribunais do país em conformidade com os acordos bilaterais e multilaterais, como é o caso da CPLP.

Um recente relatório da Organização Internacional da Vinha e do Vinho (OIV), nota que a produção global de vinho decresceu, entre 2016 e 2017, 8,6 por cento, passando para os 250 milhões de hectolitros, valor que não era registado desde 1957, sendo as alterações climáticas a principal causa.

No entanto, esta redução afecta especialmente os gigantes mundiais da produção vinícola, onde estão os já referidos três países europeus, juntando-se os vinhos da Califórnia, que é o 4º maior produtor global, que se manteve relativamente estável, com uma pequena descida, e a China, que é o 7ª, onde caiu 5 por cento.

Já Portugal, que é o 11º produtor mundial, e que, tradicionalmente é o país que mais vinho exporta para Angola, a produção foi em sentido contrário e subiu quase 10 por cento em relação a 2016, chegando aos 6,6 milhões de hectolitros.

Portugal e África do Sul disputam liderança no mercado angolano

Após o despoletar da crise económica em Angola, as exportações de vinho português para Angola fizeram uma aterragem forçada, diminuindo de um ano para o outro em 50 por cento, chegando aos 57 % em 2016, mas recuperando a seguir, em 2017, onde os vinhos portugueses, segundo a ViniPortugal, organismo que gere a promoção do vinho além-fronteiras, ainda representam 70 por cento das vendas no país.

No entanto, recorde-se que a crise político-diplomática entre Angola e Portugal, motivada pela questão judicial que, desde o início do ano passado, envolve em Lisboa o ex-Presidente Manuel Vicente, poderá ser um factor decisivo para que os vinhos da África do Sul se venham a impor, no futuro breve, aos vinhos portugueses.

Recorde-se que foi o próprio ministro das Relações Exteriores, Manuel Augusto, que, em Dezembro, disse, em tom de aviso ao Governo de Lisboa, que Angola pode muito bem substituir os vinhos portugueses pelos sul-africanos: "A África do Sul também tem bons vinhos...".

Actualmente, Portugal lidera o top 5 dos grandes exportadores de vinho para Angola, que são, por esta ordem, Portugal, Espanha, França, África do Sul e Itália.

Face a este cenário, as autoridades do Cabo Ocidental, a província sul-africana com mais tradição na produção vinícola, pretendem aumentar as vendas para Angola, aproveitando aquilo que o ministro Alan Winde considera ser uma boa receptividade em Angola para a produção de vinho sul-africana.

Segundo a análise ao perfil dos vinhos vendidos em Angola, sobressai a ideia de que alguns exportadores, como Itália e França, vendem, sobretudo, vinhos caros de elevada qualidade, cuja distribuição é relativamente limitada, enquanto Portugal, que também tem espaço nesse nicho de qualidade elevada e caro, e a África do Sul, combatem pelo consumidor médio, pelas prateleiras dos grandes supermercados, pelo vinho de preço médio, acessível. E é aí que a África do Sul quer ganhar parte do mercado que é hoje dos vinhos portugueses.