Encostado entre a espada e parede, Jacob Zuma foi obrigado a resignar na noite de ontem, quarta-feira, depois de duas semanas de intensa e insuportável pressão para que deixasse o cargo, onde esteve durante nove anos consecutivos sob fortes acusações de corrupção e má governação.

Eleito em Dezembro para a liderança do ANC, derrotando em Congresso a escolha de Zuma para lhe suceder, Ramaphosa desde logo mostrou ao que vinha e isso era claramente afastar Zuma do cargo, justificando tudo com a ideia de que a sua Presidência estava a esboroar o prestígio e a credibilidade do partido de Nelson Mandela que assumiu o poder em 1994, nas primeiras eleições do pós-apartheid.

Menos de 24 horas depois de Zuma deixar o cargo, aconteceu o velho ditado, "rei morto, rei posto", com a subida ao "trono" do velho companheiro de luta de Mandela, Cyril Ramaphosa, um histórico do ANC na luta contra o regime racista na África do Sul, tal como o foram Thabo Mbeki, que assumiu o poder após o abandono de "Madiba", e Jacob Zuma, que chegou a estar preso também em Roben Island.

Como vice de Zuma, Cyril, de 65 anos, assumiu de imediato o cargo interinamente na noite de quarta-feira, tendo sido oficialmente instituído no cargo pelo Parlamento, como determina a Constituição, hoje, onde a maioria clara do ANC transformou esta votação numa mera burocracia.

Tido como grande negociador e estratega (como se explica em baixo porquê), Ramaphosa iniciou de imediato, em Dezembro, uma clara linha estratégica visando deixar Zuma entre a espada e a parede, como veio de facto a suceder, tendo hoje assistido de lugar cimeiro à queda do seu agora antecessor.

Quem é o novo PR da nação arco-íris?

Para o futuro, sendo Ramaphosa um homem de negócios experiente, fica apenas, como sublinham alguns analistas sul-africanos, a sua conhecida integração na linha moderada reformista do ANC, que se opõe aos populistas, onde se situava Zuma, esperando-se alterações significativas nas políticas do país, especialmente em termos económicos, onde o país, com Zuma, viu os seus índices decaírem de forma acentuada, especialmente desde que, embora oficiosamente, o agora ex-Presidente optou por seguir os traços de países vizinhos como o Zimbabué, com o contínuo afastamento de brancos da estrutura do poder e do mundo empresarial.

Cyril nasceu em 1952. Tem no currículo um vasto caminho feito na luta contra o apartheid, mas, recentemente, é líder do ANC desde Dezembro, vice-Presidente e líder da Comissão Nacional de Planeamento, cuja missão é redesenhar a estratégia para o futuro da África do Sul, visando o desenvolvimento e o crescimento no longo prazo.

Foi ainda o negociador-chefe do ANC no período de transição do apartheid para a democracia pluripartidária, liderando a mais poderosa organização laboral do país, em torno dos mineiros, sendo tido como o principal responsável pela transição pacífica, no início da década de 1990, para a democracia, ao lado de Mandela (os dois na foto), que, segundo a sua página oficial, terá afirmado antes de deixar o poder, que era a sua escolha para lhe suceder.

Detentor de uma fortuna calculada em 450 milhões de dólares, Ramaphosa tem, no vasto conjunto de propriedades e participações, a do McDonald"s South Africa.

Todavia, alguma imprensa sul-africana foi divulgando, ao longo dos anos, a existência de dúvidas sobre a forma como ergueu o seu império empresarial, embora nunca tenha visto quaisquer acções judiciais pendendo sobre si, apesar de alguns episódios tenham atingido foro de polémica nacional.