Esta afirmação foi feita sem apresentar quaisquer provas e levou o assunto às capas de jornais em todo o mundo, onde se multiplicam as manifestações de repúdio pelo que se está a passar na maior floresta tropical do planeta, e para onde o Presidente Jair Bolsonaro nunca escondeu que tem grandes planos, passando todos eles por fazer avançar as moto-serras, seja para a pecuária e agricultura intensiva, seja para a exploração de minérios.

A sua vontade de levar o "desenvolvimento" à Amazónia fê-lo ganhar a alcunha de "capitão moto-serra", que o próprio justifica com o seu empenho em criar os mecanismos legais necessários para permitir a exploração desta floresta que tem sido protegida pelos sucessivos governos brasileiros atendendo à importância que ele tem para a sustentabilidade da vida em todo o mundo.

E isso mesmo ficou claro nos últimos dias quando uma intensa e espessa nuvem de fumo cobriu a cidade de São Paulo, gerando situações de pânico entre a população da cidade, mais de 20 milhões de pessoas, seja porque algumas tiveram dificuldade em respirar, outras porque o fenómeno nunca tinha sido avistado.

O aumento em mais de 85% no número e extensão dos fogos na Amazónia em relação a 2018 começou por gerar pânico global devido à ausência, confirmada pelos especialistas, de condições climatéricas que o justifiquem, o que conduziu à suspeita de que estes incêndios devastadores podem estar a ser ateados por interesses económicos na exploração da floresta húmida, com uma concertação de objectivos entre mineiros, criadores de gado e produtores de soja e outros produtos agrícolas de exportação, que sabem ter em Bolsonaro e no seu Governo fortes apoiantes.

Nunca tinha sucedido até hoje a contagem de mais de 52 mil incêndios nos estados brasileiros cobertos pelo manto vegetal amazónico, o que corresponde a um aumento de 84%, segundo fez saber o Instituto Brasileiro de Investigação Espacial.

Neste período de governação de Jair Bolsonaro, para além do assassinato de lideres indígenas que se opunham ao avanço das moto-serras na floresta, também alguns dirigentes de organismos públicos que procuram expor a verdade da tragédia em curso no Brasil, foram demitidos, como foi o caso mais mediatizado de Ricardo Osório Galvão, do cargo de director do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), por ter contrariado os números avançados pelo Presidente sobre a extensão do desmatamento.

E agora, visto que não pode demitir as ONG que lidam com as questões ambientais, sejam elas nacionais, sejam estrangeiras, Bolsonaro diz que são os seus dirigentes que estão a queimar a Amazónia por estarem a perder dinheiro e para o prejudicarem, a ele e ao Brasil.

Mas o Presidente foi ainda mais longe e ameaçou deixar o Acordo de Paris, onde centenas de países se comprometem com metas ambientais que visam salvar o planeta da autodestruição devido à poluição gerada pela queima de poluentes, como os derivados do petróleo, através da diminuição da temperatura média global.

A justificação de Bolsonaro é esta: "Se o Acordo de Paris fosse bom, o Presidente Donald Trump não o teria abandonado".

De facto, o Presidentes dos EUA abandonou o Acordo de Paris, alegando, entre outras razões, com a urgência de salvaguardar os interesses dos Estados Unidos, nomeadamente na sua batalha pela manutenção das centrais a carvão ou pela manutenção de níveis de poluição que já não são tolerados em quase lado nenhum do mundo dos seus veículos ou das suas fábricas.

A generalidade das ONG visadas por Bolsonaro rapidamente desmontaram os seus argumentos, sublinhando que o número de fogos nas últimas horas aumentou dramaticamente e que estas acusações servem apenas para mascarar a sua incapacidade para lidar com o problema, que resulta do seu encorajamento aos fazendeiros para avançarem em força para o desmatamento da Amazónia por razões económicas.

Todavia, não existem dados sobre o número de incêndios que foram gerados de forma criminosa ou que tiveram deflagração natural, sendo que uns e outros são comuns nesta época do ano.

Há ainda registo de fogos igualmente grandes e numerosos nos países vizinhos e igualmente abrangidos pela floresta tropical amazónica, como a Bolívia e o Peru.