O ex-Presidente brasileiro, segundo uma sondagem realizada pelo DataFolha, corre "livre" na frente das intenções de voto com 31 por cento dos inquiridos a dizerem de forma clara que o querem de volta ao Palácio do Planalto para gerir o país nos próximos anos.

Se Lula, que é um dos políticos mais populares da América Latina e já foi uma referência global, como o antigo Presidente norte-americano, Barack Obama, o disse, vai conseguir ou não constar do boletim de voto quando os brasileiros forem chamados a votar, só a Justiça o poderá decidir, mas, para já, as contas jogam contra ele, apesar de o seu partido, o PT, estar a fazer finca-pé na sua primeira opção para derrotar o actual Chefe de estado, Michel Temer, que já anunciou que vai ser candidato.

No entanto, Temer não é, nem de perto nem de longe, tendo em consideração as sondagens, adversário à altura de Lula, mas o mesmo não se poderá dizer do Supremo Tribunal Federal, guardião da Constituição brasileira, que é a quem compete neste momento decidir do futuro de Lula, que tem tudo a ganhar ou perder num ínfimo pormenor.

Esse pormenor é este: quando em Setembro for validar as candidaturas, o tribunal vai olhar para a de Lula da Silva e, face à sua condição de detido a cumprir pena de 12,1 anos de cadeia efectiva por alegadamente ter sido corrompido no âmbito do escândalo Lava Jato, determinar se a sua condição de putativo futuro Presidente lhe dá o direito a fazer campanha em liberdade, suspendendo a sua prisão nesse período e durante, no caso de vitória, o cumprimento do mandato.

Michel Temer, actual Presidente e com evidente envolvimento no escândalo, com gravações dele a admitir subornos tornadas públicas, não parece estar destinado a continuar no cargo, porque a sondagem do DataFolha coloca-o com uns insignificantes 2% das intenções de voto.

Mas o mesmo não se pode dizer do pseudo-fascista, o candidato da extrema-direita, Jair Bolsonaro, que se apresenta com uns confortáveis 15% no inquérito, enquanto a antiga ministra de Lula e ambientalista, Marina Silva, surge com 10%.

Apesar de líder sem rival nas sondagens, Lula tem vindo a perder terreno, porque na anterior sondagem a esta, tinha conseguido 37%.

O apartamento é do povo porque Lula é o povo

Na génese do processo judicial que conduziu, pela mão do juiz-estrela do Brasil, Sérgio Moro, Lula à prisão, está um apartamento, o famoso triplex de Guarajá, que terá recebido da construtora OAS para obter benefícios em contratos com a petrolífera Petrobras.

Este apartamento foi ontem ocupado por um grupo de dezenas de elementos do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem teto), que argumentaram a iniciativa lembrando que se o apartamento, que Lula e a sua defesa garantem nunca ter sido propriedade do ex-Presidente, "é do Lula, então é do povo e o povo pode ocupá-lo".

Este protesto foi organizado, conta a imprensa brasileira que ainda consegue sobreviver fora da rede gigantesca dos media afectos a Rede Globo, notoriamente ao ataque contra Lula, para significar as incongruências do processo, onde, como também sublinha a defesa, nunca foi provado que o triplex alguma vez foi dele.

O coordenador do MTST explicou assim: "É uma denúncia da farsa judicial que levou Lula a prisão. Se o triplex é dele, então o povo está autorizado a ficar lá. Se não é, precisam explicar porque ele está preso". (na foto)

O protesto acabou pouco depois com a intervenção da polícia mas o objectivo foi conseguido depois da publicação de vídeos e fotografias da ocupação nas redes sociais.

A primeira carta da prisão

Numa carta escrita a partir do cárcere, dirigida aos brasileiros, diz-se tranquilo embora não negue que está "indignado" porque, insiste, está "inocente" e como "todos os inocentes" reage perante a "injustiça" de que está a ser alvo.

Recebida pelos advogados e depois tornada pública por estes, na carta Lula escreve: "Estou tranquilo, mas indignado, como todo o inocente fica quando é injustiçado".

"Estou muito agradecido pela vossa presença e resistência neste acto de solidariedade. Tenho certeza que não está longe o dia em que a Justiça valerá a pena", escreveu ainda o ex-Presidente brasileiro na mesma missiva.

Nela, persiste a ideia de que todo o processo que o envolve teve como único objectivo afastá-lo da candidatura Presidencial e volta a desafiar o juiz Moro de provar as acusações que contra ele deu como válidas.

Uma das ideias dos apoiantes de Lula era fazer com que milhares de cartas enviadas de todo o Brasil chegassem à prisão de Curitiba, para fazer dos carcereiros do ex-Presidente os seus mensageiros (carteiros) da liberdade.