Um mês depois de Bolsonaro ter sido eleito Presidente, cuja posse terá lugar no início de Janeiro do próximo ano, as chefias militares optaram por clarificar as dúvidas levantadas durante a campanha a partir de alguns posicionamentos do agora Presidente eleito onde defendeu que os militares poderiam tomar as instituições brasileiras ou dos elogios que fez aos tempos da ditadura militar que governou o país entre 1964 e 1985.

Numa entrevista ao jornal Folha de São Paulo, o general Villas Boas afastou de forma peremptória a possibilidade de um regresso dos tempos onde a gestão política do Brasil era feita a partir dos quartéis e garantiu que a separação entre os militares e o Governo é inamovível.

Isto, como também disse, apesar de o Governo que está a ser desenhado pelo Presidente eleito e ex-capitão do Exército contar com vários militares e ex-militares.

Villas Boas acrescentou ainda que os militares encaram como positiva a entrada de militares no Governo mas sublinhou quer isso é normal face à clara separação institucional entre os quartéis e o Governo do país.

Até porque, apontou o comandante dos Exército, Jair Bolsonaro é hoje muito mais um político que um militar porque este deixou as fileiras em 1998.

Mas as armas vão estar sempre à mão

Entretanto, numa outra entrevista, desta feita à Globo, o futuro ministro da Justiça do Brasil, já indicado por Bolsonaro, Sérgio Moro, o juiz que liderou a Operação Lava Jato, que levou o ex-Presidente Lula da Silva à Cadeia, disse ser favorável a um facilitamento do acesso ás armas, tal como preconiza o Presidente eleito.

No entanto, o juiz que é uma estrela no Brasil, para a direita ideológica, e um vilão, para o Partido dos Trabalhadores, que o acusa de ter trabalhado a favor de Bolsonaro, retirando-lhe da frente eleitoral Lula da Silva, o preferido dos brasileiros segundo as sondagens da época, veio igualmente refrear os ímpetos armamentistas do Presidente eleito afirmando que "posse significa que a pessoa pode ter uma arma dentro de casa, não que ela ande com a arma na rua".

Moro garantiu ainda que o crime se combate através de investigações sólidas ao mesmo tempo que se evitam confrontos armados, contrariando, de certa forma, aquela que foi a mais estridente das promessas eleitorais de Jair Bolsonaro, que foi a defesa da distribuição de armas pela população para servirem de recepção aos criminosos que lhes baterem à porta de casa.

O juiz foi ainda mais longe e defendeu que flexibilizar o acesso ao porte de arma não é o mesmo que incentivar o povo a andar armado na rua, apenas quer dizer que é preciso aliviar as restrições hoje existentes, que considera muito apertadas.

Moro entende que "o crime organizado deve ser confrontado com investigações sólidas, a prisão e isolamento dos seus líderes e o confisco dos produtos da actividade criminosa e dos bens da organização".

"Não podemos construir uma política criminal, incluindo a luta contra o crime organizado na base de confrontos e tiroteios. O risco de danos colaterais é muito grande, e não apenas danos colaterais, mas o risco para a polícia", notou.