Com 32 por cento das intenções de voto na mais recente sondagem, Bolsonaro está a surpreender o mundo com esta subida de popularidade, tendo em conta as múltiplas declarações de teor fascista, racista e homofóbico, mas nem por isso é uma surpresa no Brasil.

Isto, porque, como começa a ser claro nas interpretações feitas na imprensa brasileira e internacional para este fenómeno, o que os brasileiros sentem e dizem é que Jair Bolsonaro não é o candidato ideal mas que é aquele que surge fora do sistema e como única alternativa para o caos político, social e económico em que o maior país da América do Sul se encontra.

Políticos detidos às dezenas a partir do escândalo de corrupção "Lava Jato", desemprego galopante e milhões de jovens sem solução para as suas vidas, criminalidade nos píncaros... este é o combustível que alimenta a corrida, para já, vitoriosa de Bolsonaro.

Estes problemas sociais, económicos e políticos no Brasil são os mesmos, com maior ou menor ênfase, que existiam há 10 e 20 anos, e para os quais a democracia brasileira não soube ou conseguiu encontrar soluções.

É por isso que Bolsonaro, que tem uma ideia da democracia restrita e muito própria, surge como a "solução" aos olhos dos brasileiros menos favorecidos e também para as elites económicas do país, assustadas e remetidas para guetos de luxo devido à insegurança.

Fernando Haddad, candidato do Partido Trabalhista, que procura aproveitar a popularidade de Lula da Silva, o ex-Presidente que está detido há meses, condenado que foi por corrupção, parece não descolar nas sondagens, onde surge com 23 por cento das intenções de voto, subindo, tal como Bolsonaro, ligeiramente nas intenções de voto desde a anterior sondagem.

A explicação mais recente do candidato do PT para a distância que o separa de Bolsonaro é que, como disse a uma televisão portuguesa, o homem da direita extremista tem em curso uma campanha contra si baseada em falsidades e muito virada para os eleitores integrados em igrejas evangélicas e que promove via redes sociais.

Um dos mais sonantes apoios conseguidos pelo candidato do PSL, que já conta com a colagem clara das Forças Armadas, especialmente dos oficiais superiores, como os generais, foi o do bispo Edir Macedo, da Igreja UNiversal do reino de Deus (IURD), uma das mais poderosas do Brasil.

Procurando chamar a atenção para a natureza ideológica do seu adversário, Haddad compara Bolsonaro ao antigo ditador português, Oliveira Salazar, afirmando que as ideias que o brasileiro defende são semelhantes às que moveram os quase 50 anos de poder do regime fascista português que terminou em 1974, inclusive nos seus slogans de campanha, onde enaltece recupera de Salazar a ideia nacionalista de Pátria e de família.

Os portugueses, os brasileiros e o mundo em geral deviam, entende Fernando Haddad, "ficar preocupados com a possibilidade de Jair Bolsonaro poder ganhar as eleições" no Domingo.

No entanto, dificilmente o Brasil terá no Domingo o seu próximo Presidente da República escolhido, porque nenhum dos candidatos deverá chegar aos 50 por cento dos votos entrados em urna.

O que implica a realização de uma segunda volta e, aí, a natureza da votação será diferente, com uma ascensão natural de Haddad, que deverá congregar os votos dos candidatos do centro-esquerda que vão ficar pelo caminho, nomeadamente Ciro Gomes, do Partido Democrático Trabalhista (PDT), Geraldo Alckmin, do Partido Social-Democrata Brasileiro (PSDB) e Marina Silva, da Rede.

Ou seja, se Bolsonaro for obrigado a ir a uma segunda volta, depois de dizer que não aceitará a derrota e ter voltado atrás com essa declaração, provavelmente verá a soma dos candidatos que deverão ficar pelo caminho e dos seus serem suficientes para garantir a sua derrota.

É isso que está a levar a sua campanha a procurar o "milagre" da eleição à primeira volta, com a intensificação dos ataques a Haddad e com o aproveitamento massivo da sua hospitalização recente fruto de um ataque de que foi alvo, apesar de subsistirem fortes reservas sobre a eventual encenação desse mesmo ataque com intuito de retirar proveito eleitoral, tendo conseguido, pelo menos, atingir, nos últimos dias, o seu índice mais elevado de popularidade até agora.

Para já, segundo as sondagens, Haddad e Bolsonaro aparecem, para o caso de ocorrer uma segunda volta, com as mesmas intenções de voto, 43 % para o homem do PT e 41 por cento para o candidato da direita, enquanto a taxa de rejeição é também elevada para ambos os candidatos, 44% para Jair Bolsonaro e 38 % para Fernando Haddad.

No entanto, os círculos próximos de Haddad e do seu PT dizem que estas sondagens, realizadas pelo IBOPE (Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística) para os media do Grupo Globo - Folha de São Paulo e TV Globo - que apoia o candidato da direita, foram e estão a ser manipuladas de forma a beneficiar o candidato do PSL.